por Nádia Macedo
Depois de 26 anos, a última sala de cinema no centro de Campinas que resistia as modernidades e a possibilidade de ser instalada em um shopping, se uniu aos antigos prédios cinematográficos e fechou as portas. A seção que encerrou a programação do Cine Paradiso foi realizada no dia 29 de outubro. Os idealizadores deste cinema alternativo, Hélcio Enriques e Laércio Júnior, decidiram fechar as portas por uma série de razões, entre elas a degradação da área central, que levou a falta de público e consequentemente o desastre financeiro para se manter um cinema aberto.“Eu encaro o fim do Paradiso como o fim de uma era e não o fim de tudo. Continuamos a buscar incentivos.”, alerta.
Os cinemas antigos, assim como o Cine Paradiso, foram perdendo público, investimentos e espaço. A causa disto, segundo o historiador da Secretaria de Cultura de Campinas, Orestes Augusto Toledo, é a procura pelo lucro, o que acabou por transformar o ambiente cinematográfico em um ramo de negócio.
Para Toledo, nos dias de hoje a maioria dos cinemas se localiza em um ambiente mercadológico. “Os shoppings são os templos do consumismo, e é neste ambiente que os cinemas estão inseridos”, conta Orestes.
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Segundo o historiado e amante do ambiente cinematográfico, o shopping favorece a veiculação de filmes que têm características mercadológicas. No entanto, ele ressalta que existem produções de qualidade, mesmo sendo minoria diante de grande parte que ele considera ‘lixo hollywoodiano’. Toledo revela, ainda, que a indústria e a arte são ambiguidades que envolvem a produção dos filmes cinematográficos. “A força avassaladora da mercadoria e do lucro coloca, muitas vezes, em cheque os princípios do cinema enquanto arte. Mas seria incoerente afirmar que a ‘arte pela arte’ é totalmente viável financeiramente”. Para ele, o maior problema destes cinemas que se localizam no shopping é que o filme acaba sendo visto como mais um produto, um acessório a mais neste ‘templo do consumo’. “Como as classes populares não têm condições para tamanho consumismo, são inevitavelmente excluídas dessa realidade”, avalia.
De acordo com o historiador, a pirataria é uma consequência dessa exclusão e representa uma alternativa para acesso das classes com menor poder aquisitivo à produção cultural cinematográfica. “Os camelódromos não são piratas, piratas são as indústrias que criaram uma propriedade privada, privando as pessoas de um bem cultural”.
Apesar dos cinemas estarem inseridos em um mundo capitalista existem, ainda, aqueles que resistem a essa dominância mercantil. São os chamados cinemas alternativos, onde são exibidos filmes de maior profundidade artística. Em Campinas, esse tipo de filme pode ser encontrado nas sessões do MIS (Museu de Imagem e Som). “Neste cinema de resistência é possível assistir aos filmes que não chegam às telas em razão da censura do mercado”, explica Orestes Toledo.
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