Meio ambiente é o foco do blog produzido por alunos do 6º período de Jornalismo da PUC-Campinas, resultado da disciplina Jornalismo On Line.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Bastardos, talvez. Inglórios, jamais


por Pedro Garcia

O roteiro começou a ser escrito há uma década. Muitos acreditavam que ele não seria filmado. O próprio Quentin Tarantino chegou a pensar em não filmá-lo. No entanto, o filme saiu e, como toda obra de Tarantino, é impecável.


Pôster de divulgação de Bastardos Inglórios


O longa começa quando o sádico coronel Hans Landa (interpretado pelo até então desconhecido Cristoph Waltz) é enviado por Hitler para dizimar uma família de judeus, escondida no interior da França dos anos de 1940, época em que ela estava ocupada pelos nazistas. A explosão de violência que se passa na cena inicial não deixa dúvidas; o filme é de Tarantino. O coronel Landa, assim como Bill de Kill Bill (2003/2004), é daqueles vilões típicos do diretor: possuem um carisma que até fazem o telespectador apreciá-lo no começo e, quando menos se espera, revelam-se mais desumanos que qualquer antagonista dos enlatados de Hollywood.


Cristoph Waltz é o Coronel Hans Landa


Shosanna (Melanie Laurent), a filha mais velha da família executada, consegue escapar para Paris e, ao mudar de identidade, se torna gerente de um cinema particular. Contudo, a segurança da moça passa a ser ameaçada quando Joseph Goebbels, o ministro da propaganda de Hitler, decide fazer a estréia de seu mais novo filme no estabelecimento administrado por ela.


Melaine Laurent é Shossana Dreyfus


Enquanto isso, o tenente Aldo Raine (Brad Pitt) está recrutando um grupo de judeus estadunidenses, que se autodenominam “Os Bastardos”, para ir à Europa com um único e simples objetivo: matar nazistas. Contratados pelos britânicos, os Bastardos recebem a missão de matar Hitler no evento cinematográfico, juntando assim várias linhas narrativas que culminam em um final surpreendente.


Brad Pitt é o Tenente Aldo Raine


No filme há uma total inversão de papel. A impressão que se tem é que são os nazistas que temem os judeus – por causa da violência com que os Bastardos os aniquilam – e não o contrário. Só isso já seria o suficiente para que a versão de Tarantino da Segunda Guerra fosse totalmente diferente daquela descrita nos livros e para que o seu longa fosse completamente alternativo àqueles que estamos acostumados a assistir. Se isso não bastasse ainda temos um Hitler hilário e britânicos conspirando de forma sarcástica para matá-lo.


Assista ao trailer de Bastardos Inglórios:
http://www.youtube.com/watch?v=gt7m1LDlOl8


Peculiar dos roteiros de Tarantino, como já é conhecido de Pulp Fuction (1994) e Cães de Aluguel (1992), também Bastardos Inglórios possui diálogos marcantes, daqueles que prendem a atenção do telespectador na tela e fazem com que ele passe, num piscar de olhos, de uma cena de comédia para uma cena de suspense. Mesclando humor e violência, o diretor faz com que não seja possível encaixar Bastardos em um único gênero cinematográfico.


O diretor e roteirista Quentin Tarantino

Do mesmo modo que Hans Landa, os outros personagens do filme possuem características muito peculiares e prometem ficar marcados na mente dos cinéfilos por um bom tempo. Dificilmente o telespectador se esquecerá do sotaque carregado e o jeito desleixado do Tenente Aldo Raine ou da delicadeza e da frieza de Shossana Dreyfus. Mesmo os personagens coadjuvantes estão excepcionais, como sádico Sargento Donny Donowitz (Eli Roth), com seu temido bastão de beisebol, e a conceituada atriz cinema Bridget von Hammersmark (Diane Kruger), essencial para a trama.

Incrível pensar que o diretor quase não escreveu o roteiro. E quando o fez, escreveu tanto – tinha história para 12 horas de duração –, que quase transformou o longa em uma mini-série. De acordo com a revista SET de Setembro, quem o convenceu a não fazê-lo foi o diretor francês Luc Besson. Quando Tarantino perguntou o motivo, ele disse: “Porque você é uma das únicas pessoas que me fazem ir ao cinema. Então, não queria ver você perder tanto tempo da sua vida em algo que posso assistir em casa”.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Oficina de sabão amplia reciclagem de óleo vegetal

Por Mariana Bottan

Com a ideia de firmar um projeto que aliasse promoção social à recuperação ambiental, a Prefeitura Municipal de Pedreira (SP) mantém, desde 2006, uma oficina de produção artesanal de sabão com base na arrecadação de óleo vegetal usado. O projeto tem por objetivo a melhora da qualidade de vida de mulheres em situação de vulnerabilidade social por meio da capacitação para um trabalho digno.
Todas as manhãs, de segunda à sexta, as oito participantes da oficina (que tem capacidade para atender dez mulheres) saem às ruas e passam de porta em porta das casas e dos comércios da cidade para vender o sabão produzido. A renda média obtida com a venda varia de R$500 a R$1300.
A terapeuta ocupacional e coordenadora do projeto, Denise Toledo, reforça que a proposta da oficina é garantir autonomia e uma melhora na auto-estima das mulheres atendidas e que a geração de renda é conseqüência e não foco do projeto. “A ação desenvolvida pela Secretaria de Promoção Social não é assistencialista. Eu costumo dizer que 60% dos resultados desse projeto depende exclusivamente da força de vontade e do trabalho de cada uma das participantes”, diz.
Segundo Denise, o trabalho da secretaria consiste em divulgar, fornecer palestras de conscientização da população e de garantir a conquista de parcerias no mercado para manter o trabalho desenvolvido nas oficinas de sabão. Além disso, uma vez por semana um grupo de orientação formado por psicólogos atende as participantes da oficina e auxilia quanto às técnicas de venda, postura e abordagem das pessoas.
Assim, somado ao incremento à renda familiar, essas mulheres ganharam auto-confiança e qualidade de vida. “Aqui eu aprendi tudo, até mesmo a conversar. Eu era mais tímida do que sou hoje e, por ter que sair de porta em porta para vender, aprendi a lidar com o povo e hoje não tenho vergonha, tenho amizade com todo mundo. Esse trabalho é um grande triunfo para mim”, conta com desenvoltura Eleninha Mendes, que participa há oito meses da oficina.

A maior de todas as parcerias do projeto é assegurada pelo apoio da população do município que, ao separar o óleo de cozinha usado para ser recolhido pela cooperativa, fornece a matéria prima que mantém o trabalho na oficina. A Prefeitura de Pedreira fornece toda a estrutura e os materiais necessários para o projeto e promove campanhas de conscientização com o objetivo de ampliar a participação popular na reciclagem do óleo vegetal. “No início, arrecadávamos cerca de 800 litros de óleo vegetal por mês. Hoje, o volume coletado chega a uma média de 5.500 litros e a cada mês estabelecemos uma meta maior para aumentar a arrecadação”, informa a coordenadora do projeto Denise Toledo.
De acordo com Cristina Bataglioli, bióloga e responsável pela manutenção do Zoo Bosque Municipal, 1litro de óleo vegetal tem a capacidade de poluir, em média, 14 anos da vida de uma pessoa. “Imagine então a dimensão da poluição se cada um dos 40 mil habitantes de Pedreira descartar 1litro de óleo no ambiente. Eu acho que esse projeto é mais do que ajudar essas mulheres: é mudar o modo de pensar de toda uma cidade. É um trabalho conjunto em que todas as partes saem ganhando”, acrescenta a bióloga.

Reciclagem do óleo vegetal em Campinas

Contribuir com o meio ambiente e com a geração de trabalho e renda por meio de projetos como o de Pedreira está ao alcance de qualquer cidadão. De acordo com José Custódio Ribeiro, responsável pelo setor de educação ambiental da Coordenadoria Setorial de Coleta Seletiva da Prefeitura Municipal de Campinas, o óleo vegetal deve ser armazenado em garrafas de plástico e separado com os outros materiais recicláveis do lixo doméstico, como o papelão e o alumínio, para ser recolhido pelo caminhão da coleta seletiva. “Caso o material não esteja sendo recolhido das vias públicas de maneira adequada é porque houve falha na operação e fugiu ao conhecimento da coordenadoria”, salienta José Custódio. Sua orientação é que a própria comunidade pode fiscalizar e, ao observar qualquer irregularidade na coleta seletiva, deve contatar o Departamento de Limpeza Urbana (DLU) da prefeitura.
Atualmente a coleta seletiva abrange 75% do município e a lista dos bairros que são atendidos pelo programa está disponível no site http://www.campinas.sp.gov.br/. “A população deve se interar acerca das atividades da prefeitura e atuar como agente multiplicador. Não adianta também a prefeitura mobilizar grandes caminhões para coletar o lixo reciclável, se a população não fizer a sua parte e não for orientada de como fazê-la adequadamente”, complementa José Custódio.

* Aprenda a fazer sabão a partir da reutilização do óleo de cozinha



Fanáticos Futebol Clube

por Nádia Macedo

O simples soar do apito acelera os corações fanáticos presentes nas arquibancadas. O jogo começa! A paixão presente nas torcidas assíduas se revela a cada passe, falta e chance de gol. O psicólogo da USP, Florival Scheroki, afirma não existir um padrão que determine como um indivíduo adquire um comportamento fanático. “Cada pessoa pode ter motivos diferentes para se engajar nesses grupos de adoradores. Um deles é a falta de outro modelo que propicie as mesmas satisfações pessoais que a adoração ao time”, explica.
O estudante de Comunicação Social e torcedor do São Paulo, Lucas Diniz, conta que a paixão pelo clube é algo que só pode ser entendido por quem compartilha do mesmo sentimento. “O nervosismo nas vésperas de jogos, a ansiedade pela partida e a tensão de toda semana só podem ser recompensados com a entrada do time em campo,” compara.
Com orgulho, Lucas relembra a primeira vez em que foi ao estádio do Morumbi. “Era uma partida da Libertadores da América e tinha mais de 70 mil torcedores. Assim que senti a atmosfera do jogo, meus olhos se encheram de lágrimas.”
Nádia Macedo

Lucas Dinis sempre está na expectativa de seu time vencer

Sérgio Luis Oliveira, colaborador da torcida organizada do Guarani, a Fúria Independente, diz que se considera um fanático e que desde seus oito anos de idade freqüenta o Brinco de Ouro da Princesa. “Fui influenciado pelo meu pai que era um torcedor fervoroso, daqueles que não perdia um jogo e se o Guarani perdesse não falava com ninguém,” conta. Sérgio afirma ter superado seu pai no quesito fanatismo. “Se o Guarani perde, eu nem levanto da cama e nem vejo programa de esporte para não passar raiva duas vezes.”
O torcedor bugrino revela que, pelo amor ao Guarani, quase perdeu a esposa. “Deixei de ir num velório de um parente próximo da minha esposa para ir ao campo. Ela chorando e eu vibrando na arquibancada.”
Segundo o comentarista de futebol, João Carlos de Freitas, o fanatismo no futebol é superior às demais modalidades esportivas. “O torcedor de futebol, no momento do jogo, é irracional. Ele é capaz de fazer coisas mirabolantes,” observa.
O Major Walter Coelho, polícia civil de Campinas, explica que em dia de derby - partida entre a Ponte Preta e o Guarani - o policiamento é redobrado. “Em dia de derby temos que redobrar a atenção, pois a rivalidade e o fanatismo existem e o risco de ter brigas é grande”, comenta.
Palavrões, xingamentos e provocações são justificativas para brigas e pancadarias no campo de futebol, o que já resultou até em mortes. A mais recente aconteceu em fevereiro deste ano, quando dois torcedores do Cruzeiro atiraram e mataram Lucas Batista Marcellino, de 20 anos, torcedor do Atlético Mineiro.
As mortes registradas por brigas entre torcidas foram relatadas, de maneira cronológica, pelos torcedores do São Paulo no site Sempre Tricolor e podem ser conferidas no link
http://www.sempretricolor.com.br/st2009/index.php?option=com_content&view=article&id=840:briga-entre-torcidas-mortes-e-confusao&catid=43:junho

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Pesquisas garantem a regeneração do tecido humano

A demanda por tratamentos por má formação congênita e acidentes urbanos levou o SUS (Sistema Único de Saúde) a implantar a Rede de Referência no Tratamento de Deformidades Craniofaciais no Sistema Único de Saúde (RRTDCF), que funciona desde 1993. Em Campinas, a Sobrapar (Sociedade Brasileira de Pesquisa e Assistência para a Reabilitação Craniofacial) – entidade sem fins lucrativos – atendeu em 2008 mais de 16 mil pacientes portadores das mais diversas deformidades e realizou 1.200 cirurgias gratuitamente em pessoas de todo o Brasil.

Os pacientes foram encaminhados por médicos do SUS, que conta com o desenvolvimento de pesquisas elaboradas pelo INCT-Biofabris (Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Biofabricação), coordenada pelo professor titular da Faculdade de Engenharia Química da Unicamp, Rubens Maciel Filho. O objetivo é o de garantir o tratamento para o maior número de pessoas.

Unicamp é sede do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia

Os primeiros tratamentos realizados pelos SUS estavam relacionados aos estudos sobre o tratamento de fissuras labiopalatais e a realização de implantes dentários. Hoje, o INCT-Biofabris faz pesquisas na área da medicina regenerativa, com o objetivo de desenvolver biomateriais para reproduzir partes do corpo e estruturas para o crescimento de tecidos e a regeneração do osso humano. “Esses biomateriais, são substâncias naturais ou sintéticas que em contato com o corpo humano são inertes, ou seja, não provocam rejeição”, diz o professor Maciel.

Segundo ele, estes materiais podem ser metais, polímeros ou cerâmicos. As pesquisas são desenvolvidas por meio das técnicas da engenharia tecidual. “Se a pessoa tem algum tipo de falha óssea, desenvolvemos suportes chamados de escápoles que são feitos desses biomateriais e, ao ser implantado, estimula o crescimento celular do osso”, explica.

O INCT-Biofabris tem apoio de mais 12 centros de estudo das diversas áreas da ciência existentes no Brasil. Entre eles, está o CTI (Centro de Tecnologia da Informação) que também ajuda no desenvolvimento das pesquisas conduzidas pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), por meio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), em parceria com a Fapesp.
Para um dos pesquisadores do INCT-Biofabris, André Jardini, esse é um tratamento complexo e de longo prazo que requer uma equipe multiprofissional e o emprego de alta tecnologia. Para isso, o CTI possui um parque de equipamentos com tecnologia de prototipagem rápida.

Moldes são criados a partir de imagens de exames

Para o implante ser bem sucedido, a equipe médica faz uma cirurgia simulada em um molde de gesso, desenvolvido pela engenharia reversa e possibilita a reprodução de partes do corpo humano diretamente de imagens médicas, como tomografia e ressonância magnética. Na avaliação de Jardini, esse tratamento se reverte para inclusão social da pessoa. “Uma paciente submetida a um implante de mandíbula por causa de um câncer, depois de um ano de tratamento, estava jantando em uma churrascaria”, exemplifica.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Vereador quer passe universitário

por Pedro Garcia

O projeto de lei 156/07, para implantar o passe universitário, foi arquivado novamente na Câmara Municipal de Campinas, em setembro. Desde 2006, o vereador Petterson Prado (PPS), em conjunto com o vereador Antônio Flores (PDT), vêm tentando implantar essa medida que concederia 60% de desconto na tarifa do ônibus para estudantes universitários e de cursinhos na cidade.

Para verificar a viabilidade do projeto nessa última exposição, foram estabelecidas três comissões – Comissão de Educação, Cultura e Esporte, Comissão de Política Urbana e Comissão de Finanças e Orçamentos – nas quais se emitiu parecer desfavorável em todas elas. Um fato curioso é que a Comissão de Educação, Cultura e Esporte teve como relator o vereador Miguel Arcanjo (PSC), o mesmo que apresentou uma emenda ao projeto ampliando o benefício do passe para os finais de semana e feriados, sem limite de quilometragem.

Os principais argumentos apresentados para o arquivamento do projeto foram a falta de verbas para custear o ensino superior e de cursos pré-vestibulares e a não obrigatoriedade do município em arcar com os custos do ensino superior, uma vez que ele é responsável apenas pelos ensinos básico, fundamental e médio, além de não ter sido demonstrado com clareza de onde sairia o dinheiro para financiar o passe. Isso deve-se principalmente à lei 11.263/02 que “estabelece que novos benefícios ou gratuidades para o sistema de transporte coletivos somente poderão se dar através de legislação específica, com a indicação da fonte de recursos para o seu financiamento”.

Petterson Prado não desiste do Projeto de Lei

De acordo com Petterson Prado, com o montante de isenções de impostos que o governo municipal concede às empresas de ônibus, é possível que o projeto seja implantado. Os concessionários do transporte público pagam 3% dos 5% de ISS (Imposto Sobre Serviço), possuem isenção total de ITBI (Imposto de Transação de Bens Imóveis) e de 50% a 60% de desconto no IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano), além de receberem R$ 20 milhões de subsídio do governo. “Tem uma gordura muito grande que o governo deu [para as empresas de ônibus] e essa gordura não voltou em benefícios para a população. E é essa gordura que eu quero que pague o passe universitário”, justifica.


Ouça a Explicação de Petterson para os impostos




Esses descontos e isenções foram proporcionados pela prefeitura depois que o edital de licitação já havia sido assinado pelo governo municipal e as empresas de ônibus. Ou seja, as empresas se diziam aptas a manter o transporte público sem os benefícios. A equipe da Plataforma contatou a assessoria de imprensa da Emdec (Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas) e não obteve resposta.

Coração dos estudantes - Um dos motivos que levou o vereador Petterson Prado a defender a aprovação desse projeto de lei foi a alegação de que os estudantes de todos os níveis (básico, fundamental, médio e superior) devem ter o mesmo tipo de tratamento e, portanto, o direito de desconto no valor da passagem do transporte público.

O aluno de publicidade e propaganda Rafael Gimenez, acredita que o projeto ajudaria em seu orçamento, uma vez que utiliza dois ônibus por dia para ir e voltar da faculdade. “Um ônibus para ir e um para voltar dá 5 reais por dia. Isso em um mês dá muita coisa. Imagina quem pega dois ônibus por dia”, compara.

O estudante de jornalismo Erick Julio, por sua vez, utiliza dois ônibus para ir para a universidade. De acordo com o estudante, ele usa o bilhete único que sua mãe recebe do trabalho, descontado do holerite dela no final do mês. Dessa forma, o gasto com ônibus equivale a um valor significativo no orçamento da família. “Seria mais interessante fazer o passe universitário. Se ele fosse criado, minha mãe iria cancelar o vale transporte. Assim, ela não teria mais esse desconto no holerite”, conta.

Porém, Erick mostra-se pouco otimista quanto à aprovação do projeto. Segundo o estudante, “em Campinas há um histórico de lobby empresarial das empresas de transporte e dificilmente vai sair um projeto desses, tendo em vista que a Câmara dos Vereadores está repleta de vereadores da situação, que apóiam o governo municipal”.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Lixo é a solução


Por Mariana Bottan

Atente para o seguinte cenário: um período em que a preocupação com o meio ambiente tornou-se pauta de discussão ao redor do mundo; um país cuja produção de lixo urbano chega a 150 mil toneladas por dia e que mais da metade tem como destino os lixões, segundo levantamento do Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre); uma cidade em que 28% do lixo doméstico, do total de 30% que poderia ser totalmente reciclado, é depositado no aterro sanitário. São dados que evidenciam a urgência de iniciativas sócio-ambientais que garantam um melhor destino ao potencial reciclável do lixo urbano.

De acordo com Alexandre Augusto Ceccon, técnico da Secretaria de Trabalho e Renda da Prefeitura Municipal de Campinas, por meio do programa Economia Solidária tem-se buscado garantir que o lixo reciclável gerado no município sirva de matéria prima para reutilização e até mesmo para a confecção de produtos elaborados. “No momento estão sendo feitos estudos para investimento nas cooperativas de triagem de modo a ampliar a participação deste setor na reciclagem de materiais”, explica. A Prefeitura fornece equipamentos e espaço físico para cooperativas de triagem e coleta de recicláveis.
Segundo ele, além da lei municipal que criou o programa de cooperativas de desempregados, utilizado como marco para o programa Economia Solidária, há também um decreto federal que determina que os resíduos gerados nas instituições federais de gestão direta e indireta sejam doados às cooperativas. “Diversas instituições federais já estão com contrato de doação do material para as cooperativas do Programa Economia Solidária”, revela.
Maria do Carmo Guedes, presidente da cooperativa de reciclagem São Bernardo, aponta existir 21 pessoas que separam o material reciclável e, com a venda, chegam a tirar até R$ 500 por mês. A Cooperativa Remodela, apoiada pelo programa Economia Solidária da Prefeitura de Campinas, é pioneira no município na produção de biodiesel a partir da reciclagem de óleo de cozinha usado. Com 23 cooperados, a Remodela comercializa entre 20 a 30 mil litros por mês.

Cooperativa São Bernardo, localizada na sede do Departamento de Limpeza Urbana (DLU) da Prefeitura


Além das fronteiras
Um exemplo de que a produção a partir de materiais recicláveis pode ir além do benefício ao meio-ambiente é o trabalho desenvolvido pela Ong Trilhos do Jequitibá, localizada em Jaguariúna. Com a proposta de transformar materiais descartáveis do lixo doméstico em produto para geração de renda, desde 2006, a Ong desenvolve o Projeto “Reciclar para Preservar”. O objetivo é o de oferecer oficinas de artesanato aos jovens e adultos de cinco núcleos localizados em bairros carentes do município.
Em janeiro deste ano, a Trilhos do Jequitibá expandiu suas ações por meio da parceria com o Projeto Recicle (desenvolvido na Faculdade de Engenharia Agrícola da Unicamp), e passou a colaborar com a produção de utensílios diversos, como canetas, réguas e porta-chaves, a partir da reciclagem de copos de plástico e embalagens de leite longa vida. Os produtos ganharam reconhecimento internacional e hoje são exportados para países como Dinamarca, Alemanha e Suíça.
De acordo com o presidente e fundador da Ong Hilário Argemiro, o mercado para revenda desses produtos não encontra problemas de aceitação, por serem materiais bonitos, ecológicos e de qualidade. “O problema é a falta de subsídios governamentais e a dificuldade para divulgação do trabalho nos meios de comunicação”, conta.
Apesar das parcerias com diversas entidades e do apoio da Secretaria de Ação Social e Cidadania da Prefeitura Municipal de Jaguariúna, os recursos necessários para a produção nas oficinas dependem exclusivamente de doações e do trabalho de monitores voluntários.
Mesmo com a falta de subsídios, a Ong fechou recentemente acordo com uma empresa dinamarquesa e o material produzido a partir de plástico reciclado pode ser adquirido por países de todo o mundo por meio do site da empresa. “Com isso, Jaguariúna está sendo projetada em várias cidades, estados e países como uma cidade que tem projetos ambientais concretos e que trazem benefícios sociais reconhecidos”, fala com animação o presidente da Ong.

Serviços – As pessoas interessadas no assunto podem obter mais informações sobre o trabalho da Ong Trilhos dos Jequitibás no site http://www.trilhosdojequitiba.org/.
Os dados sobre eco-empreendedorismo estão disponibilizados nos endereços http://www.empresaresponsavel.com/ e http://www.reciclaveis.com.br/
Os sites http://www.pgnet.com.br/ecologia/filme.asp e http://www.lixoarte.com.br/ mostram alternativas do que pode ser feito com o lixo.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Carta e sua essência. Internet e sua ausência


Por Nádia Macedo

No ar, o cheiro do papel. No olhar, uma letra única e especial. A cada linha lida uma novidade, uma história, ou mesmo, saudade. O ato de receber uma carta trás à tona uma sensação inigualável. Essa é uma das razões pela qual Mariana Peron, revisora do Jornal de Piracicaba, ainda escreve cartas endereçadas aos amigos. “Para mim não tem nada mais gostoso do que receber uma carta pelo correio ou um cartão de algum amigo.”
A busca por uma comunicação mais pessoal e o gosto pela escrita fizeram com que Mariana se correspondesse por 12 anos com uma amiga, com as cartas. “É muito mais interessante a comunicação por intermédio das cartas, pois nela esta inserida a letra da pessoa, e também é possível colar adesivos e fazer desenhos, é bem mais íntimo, ” frisa.
Apesar de ainda utilizar a carta para se comunicar, Mariana já aderiu alguns meios tecnológicos de comunicação em seu cotidiano e admite que estes facilitam a comunicação entre as pessoas. “Como todas as pessoas hoje são absurdamente ocupadas, é válido os e-mail, os recadinhos no orkut, twitter, porque é mais rápida a comunicação”. Porém, a revisora destaca que o contato por meio da tecnologia “acaba esfriando as relações humanas”.
Em uma palestra realizada em Campo Grande sobre as novas mídias, Marcelo Tas, apresentador do programa CQC, defende a idéia de que a internet não afasta as pessoas. “Tem muitos pais que dizem isso para mim: ‘ah, o meu filho fica isolado agora, trancado, não se comunica com ninguém’. Eu falo: querido, ele não está se comunicando com você, no entanto está se comunicando com 252 pessoas dentro daquele quarto”.
Segundo o sociólogo e professor da PUC-Campinas Pedro Rocha Lemos, a modernidade e os avanços tecnológicos provocaram mudanças estruturais na sociedade como um todo, e com a chegada da internet as mudanças foram ainda mais além. “Os jovens e principalmente as crianças perdem um pouco das referências culturais que são passadas dentro das famílias, e passam a receber mais informações que vem de fora através da internet,” frisa. Com um tom de preocupação o sociólogo conclui que “os jovens tem forte relação virtual e uma perda significativa das relações de proximidade afetiva, o que acaba prejudicando as relações humanas”. Lemos revela ainda que a velocidade com que as mudanças, decorrentes da tecnologia, apareceram, foi tão significa que a sociologia não tem condições, ainda, de avaliar quais são os impactos na sociabilidade.
Segundo uma pesquisa realizada pelo IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 21% da população brasileira -cerca de 32,1 milhões de cidadãos- de de 10 anos ou mais de idade acessaram pelo menos uma vez a internet em algum local no ano de 2005. Dentre essas pessoas que acessaram a internet a maior parte era de homens, cerca de 16,2 milhões de pessoas. Essa pesquisa constatou ainda que a utilização da internet estava mais concentrada nos grupos etários mais jovens. No grupo de 15 a 17 anos de idade, 33,9% das pessoas acessaram a internet, sendo este resultado maior que os das demais faixas etárias.
O implante coclear pela ótica da cultura surda
Por Ricarda Canozo

“Eu comecei a enxergar o mundo de uma forma mais animada, antes era como aqueles filmes do Charles Chaplin, preto, branco e mudo, com a diferença que esses filmes são legais. Tenho achado muito bons os momentos em que descubro um som novo, é de uma felicidade indescritível”. Este é o relato do estudante Rodrigo Andrade Rabelo de 23 anos, sobre sua visão de mundo após a cirurgia do IC (implante coclear), realizada há seis anos. O implante coclear é um dispositivo eletrônico que estimula as fibras nervosas remanescentes e permite a transmissão do sinal elétrico para o nervo auditivo. O sinal é decodificado pelo córtex cerebral.

A opinião sobre o IC não é unânime, divide a comunidade dos surdos em dois grupos: parte, como o Rodrigo, é favorável, vêem-no como ferramenta para uma comunicação mais eficaz. Outros, por verem a surdez como uma diferença e não como deficiência, são contra e alegam que, como o implantado não vai se expressar perfeitamente como o ouvinte, não terá identidade cultural nem com os surdos, nem com os ouvintes.

O antropólogo Duarcides Ferreira Mariosa explica que “o desejo de inclusão para poder se inserir impõe-se como necessidade, de se sentir amparado profissionalmente, por exemplo”. Para ele, as principais características da cultura surda são construir um mundo sem som, de movimentos, sinais, toques e visual. Esta é a referência deles e esta maneira de ver o mundo que lhes dá identidade. “Quando isto muda, perde-se esta identidade,” frisa.

Todos os sábados, uma igreja do bairro Cambuí, em Campinas, realiza reuniões com surdos. Rodrigo, mesmo depois de fazer o implante, resolveu participar desses encontros, mas revela que “a experiência não foi muito prazeroza”. Segundo ele, existe um distanciamento entre quem faz uso apenas da Libras (linguagem brasileira de sinais) com aqueles que realizaram o implante coclear. “Fica difícil a interação”, desabafa.

A perda da audição pode ser ocasionada por doenças pré-natais, infecções em vida, ou pode ser genética. Rodrigo era ouvinte até os nove anos, quando sofreu um acidente e, ao acordar no hospital, perguntou por que sua mãe e tia estavam sussurrando. Ele teve perda total de audição nos dois ouvidos, mas frisa que isso “não foi muito impactante”. Para ele, “ouvir era como respirar, não era um sentido que eu prestava muita atenção.”

O médico Paulo Porto, que realizou o implante em Rodrigo Rabelo, deixou claro que o IC não representa um milagre, pela necessidade de se treinar a audição e que os resultados variam em cada paciente. Esclareceu também que, em alguns casos, mesmo com o aparelho, pode haver bloqueio do som até a cóclea e prejudicar o implante em um determinado lado da cirurgia. Outro risco é a possibilidade de ocorrer uma infecção na região em contato com o aparelho externo.

Rodrigo optou por fazer o implante porque sentiu-se seguro com as explicações médicas mesmo sabendo dos problemas que poderia enfrentar. “Existem alguns mitos sobre o implante, como não poder praticar esportes, mas eu continuei fazendo equitação”, exemplifica. Sua cirurgia foi feita pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Ele passou por um processo de seleção, que envolve acompanhamento psicológico e a avaliação da equipe de IC, que analisa se a pessoa está apta a fazer a cirurgia ou se vai negligenciar o tratamento. “É preciso muito treino, acompanhamento psicológico e fonoaudiólogo”, lembra Rodrigo que até hoje faz o acompanhamento clínico.

O IC é contra-indicado para casos de pequena perda auditiva, quando os médicos recomendam o uso do aparelho de amplificação sonora individual (AASI). Até 2004 o implante não era indicado para menores de 12 anos para que a opinião do paciente fosse levada em conta. Hoje, a ciência aponta que, quanto mais cedo o implante for realizado, aumentam-se as chances de ganho auditivo. No caso de Rodrigo, que foi operado aos 17 anos, o ganho auditivo foi de 90%, ou seja, a cada 100 sons que ele percebe, consegue identificar 90. “Estou mais integrado ao mundo dos sons. Melhorou bastante a minha socialização, comunicação e segurança pessoal, como no trânsito”, revela. Mesmo com o aparelho desligado, ele se sente feliz. “Às vezes, é legal poder desligar o aparelho e se perder nos pensamentos em ambientes muito barulhentos,” finaliza Rodrigo.


Identidade - No Brasil há mais de 5 milhões de surdos. A cultura dessas pessoas é retratada no documentário Identidade Surda que transmite informações sobre a surdez e sobre como relacionar-se com deficientes auditivos. O objetivo deste filme foi o de quebrar preconceitos sobre a dificuldade de se relacionar com uma pessoa surda.

Som e Fúria - O implante coclear já foi realizado em mais de 60 mil pessoas em todo o mundo e o documentário Som e Fúria (Sound and Fury, 2001, USA), de Josh Aronson e Roger Weisberg, focaliza a polêmica sobre essa cirurgia entre os surdos. Som e Fúria recebeu o Oscar de Melhor Curta-metragem de Ação Real em 2002.

Linguagem - O livro "O vôo da gaivota", da autora surda Emmanuelle Laborit (1996), relata as formas de linguagem utilizadas pelos surdos e, segundo ela, qual seria a mais adequada. Uma delas é a linguagem de sinais , que no Brasil esteve proibida durante a ditadura militar. Ainda hoje recebe olhares diferentes das pessoas que utilizam apenas a linguagem oral, apesar de haver uma movimentação para que a libras seja reconhecida nas áreas da educação e da comunicação.
A autora defende a idéia de que nada deve ser recusado aos surdos e que todas as linguagens podem ser utilizadas, a fim de se ter acesso à vida. Entre essas formas de comunicação há o bilingüismo, linguagem dos sinais acompanhada da fala, o oralismo e a leitura labial.

A vez do maiô

Romeu Caldeira

A prática de esportes no Brasil não é algo muito presente no cotidiano da maioria das pessoas. Entretanto, estes apresentam destaque nacional, principalmente quando algum êxito relevante é alcançado por um atleta brasileiro.

É comum, pela maior visibilidade, ocorrer uma demasiada procura pela prática do esporte em que o “ídolo da vez” se dedica, o que atrai novos adeptos a modalidade.

No Brasil, o esporte da moda é a natação, impulsionada pelas conquistas de César Cielo nos Jogos Olímpicos de Pequim em 2008, quando conquistou a primeira medalha de ouro olímpica da história do esporte no país. Desde então, a natação ganha cada vez mais novos adeptos. “É notável o aumento da procura pelo esporte tanto em clubes quanto em academias”, afirma Marcos Zimmerman, 41, instrutor de natação e formado em educação física. Ele observa que “desde o segundo semestre do ano passado, o número de alunos dobrou, sendo necessário formar duas novas turmas”.


Foto: Globoesporte.com

César Cielo, ouro em Pequim nos 50m e recordista mundial nos 100m



Para ele, esse aumento está ligado às conquistas de Cielo. “Não há dúvidas de que com um nadador brasileiro em alta, a natação tem conquistado mais destaque na mídia, o que desperta o interesse por sua prática nas pessoas”. Acrescenta ainda que “para um esporte crescer num país” é necessário, além de investimento, ter um ídolo.

A natação brasileira tem registrado êxito no cenário internacional, como na última edição do Mundial de Esportes Aquáticos, disputado em Roma entre junho e agosto. Nesse campeonato, o Brasil conquistou quatro medalhas, sendo duas de ouro, uma de prata e outra de bronze. As de ouro foram conquistadas por César Cielo nos 50m e 100m livres, quando quebrou o recorde mundial; Felipe França ficou com a de prata, nos 50m peito e Poliana Okimoto conquistou a medalha de bronze na maratona aquática de 5km.

Júlio Moura, 22, adepto do esporte há 3 anos, acredita que a natação só tem a crescer no país. “O nível técnico que a natação do Brasil está é surpreendente. Quem acompanha o esporte percebe que houve uma melhora expressiva na performance dos atletas. Temos agora que aproveitar essa fase ea não regredir, como ocorreu anos atrás”, pondera.

A preocupação de Moura relaciona-se ao tênis e ao atletismo. No final da década de 90, o Brasil assistiu ao auge do tenista Gustavo Kuerten, consagrado como o número um do ranking mundial. Hoje essa modalidade esportiva está esquecida. O atletismo teve épocas de glória com Adhemar Ferreira da Silva, João do Pulo e Joaquim Cruz. Apesar de ter chegado ao ouro olímpico com Maurren Maggi em Pequim, em 2008, os atletas desta modalidade não conseguiram conquistar sequer uma medalha no campeonato mundial, disputado no último mês de agosto em Berlim. A vitória de Maurren é apontada por especialistas da área como um fato isolado de um esporte que há anos é tratado com descaso no país. Com isso, o futuro da natação como também de outros esportes aquáticos no país passa a ser uma incógnita.