Meio ambiente é o foco do blog produzido por alunos do 6º período de Jornalismo da PUC-Campinas, resultado da disciplina Jornalismo On Line.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Perfil- Jesus Afonso transborda força de vontade e animação na 3ª idade

por Carolina Marialva

Agenda lotada, atividades de manhã até a tarde, curso aos sábados e no final de semana uma reunião de amigos ou um baile para relaxar. Esta rotina aparenta pertencer a algum jovem na flor da idade, que quer fazer tudo e não para um minuto!Porém, ela descreve o dia a dia de Jesus Afonso, um senhor de 64 anos. Apesar da idade Jesus é um exemplo de vitalidade, determinação e de que terceira idade e aposentadoria não é sinônimo de ficar descansando ou fazendo tricô em casa.

Muito animado, Seu Jesus, como é conhecido é um participante assíduo das atividades de terceira idade e oficinas oferecidas em um bairro ao lado de onde mora, a Vila Castelo Branco, que apesar de se localizar na periferia da cidade de Campinas tem uma boa infra estrutura contando com quatro escolas, Igreja, uma casa de cultura e uma ONG (O PROGEN- Projeto Gente Nova) que recebe jovens, adultos e idosos e oferece atividades educativas e prazerosas aos freqüentadores. No entanto, Seu Jesus não fica restrito às atividades de seu bairro, tanto que faz um curso de engenharia oferecido por um professor da Puc-Campinas e seua alunos.

Seu Jesus e a parceira de dança no Baile da Igreja


Nascido em Promissão, uma cidade a Noroeste de São Paulo, passou a infância em um sítio em Tupã, também no Estado, com seus pais e mais cinco irmãos, dos quais era o mais velho. Estudou apenas até o terceiro ano primário, como era chamado o 4º ano na época e diz que tudo o que sabe, aprendeu depois. Por volta dos 18 anos a família mudou para Campinas. Morou em vários bairros, como Jardim Eurélia e Interlagos, antes de se mudar em 1977 para o Nóbrega, onde vive até hoje.

Na época de infância, no sítio, como os pais não podiam comprar brinquedos, o próprio Jesus os fazia, utilizando madeira. Até que quando ele tinha 13 anos o pai de Jesus viu que o filho tinha jeito para mexer com madeira, e colocou o menino em uma marcenaria para aprender a profissão. O dono da marcenaria a princípio não iria pagar Jesus, e o pai disse que não haveria problema já que era apenas um aprendizado. Ao fim do primeiro mês ele avisou o menino que iria até sua casa falar com seu pai. Jesus ficou com medo, achando que o chefe iria reclamar de alguma coisa que ele tinha feito de errado, porém o patrão foi trazer o pagamento do garoto. O pai se surpreendeu, pois o marceneiro disse que não iria pagar nada, mas ele fez questão, alegando que o menino merecia.

No início, Jesus apenas varria a marcenaria e arrumava as madeiras, mas depois de apenas três meses, começou a montar móveis e não parou mais. Até 1990 trabalhou em marcenarias, mas depois preferiu trabalhar como autônomo, por conta, fazendo móveis sob encomenda em sua própria casa. No entanto Jesus foi obrigado a parar de trabalhar devido uma operação que fez em 2005. A cirurgia o proibiu de fazer força e carregar peso, por isso há 4 anos, desde quando forçado a abandonar a profissão que exerceu a vida inteira, não faz mais móveis.

Entretanto Jesus não reclama. No primeiro ano depois da operação, ele chegou a ponto de ficar louco, pois não agüentava ter de ficar em casa vendo televisão. Isso até descobrir as atividades de grupos. Ele começou a fazer Lian Gong (pronuncia-se Lian Kun), uma ginástica com movimentos marciais, no posto de saúde da Vila Castelo Branco, onde conheceu um enfermeiro que comentou que ele poderia participar do Gira Vida, uma atividade feita em roda em que os participantes contam histórias, piadas, fazem brincadeiras, exercícios para mente, dentre outras coisas. Foí a partir daí que o marceneiro conheceu e entrou no meio dos grupos da Vila, e fora dela.

Hoje ele tem a agenda lotada de atividades. Seu Jesus, como é conhecido, participa de grupos praticamente todos os dias da semana, ás vezes até há mais de uma atividade no mesmo horário, deixando ele na dúvida da qual participar. Além do Gira Vida, que acontece toda terça, Seu Jesus também faz ginástica no salão da Igreja de Guadalupe segunda e sexta. Quinta- feira ele faz aula de dança com um professor da Pontifícia Universidade Católica de Campinas na Igreja e aula de computação na Casa de Cultura Tainã. Lá, às sextas- feiras, ele participa do relaxamento e depois do Grupo Vocal, onde aprende música e seus grandes nomes. Sábado Seu Jesus faz um curso de Engenharia Civil na PUC com mais quatro companheiros da Vila Castelo Branco que pegam carona com ele para chegar até a universidade. Seu Jesus já participou de diversas outras oficinas ao longo destes 4 anos desde que parou de trabalhar, inclusive já fez um curso de culinária no Progen e gostou tanto que fez novamente. Agora, Seu Jesus ainda está dando uma de repórter do jornal Conexão Jovem, participando das oficinas de jornalismo toda quarta no Progen.

Mesmo com a correria Seu Jesus tem tempo para a esposa, Maria Antônia, com quem é casado há 25 anos. Eles moram nos fundos de uma casa em cuja frente vive uma irmã e um irmão de Seu Jesus, ambos solteiros. As outras duas irmãs são casadas e moram em Hortolândia. Seu Jesus não têm filhos, pois, de acordo com ele, casou tarde, com 39 anos, e sua esposa ficou com medo de dar a luz, mas ele não vê isso como um problema.

Muito ocupado, Seu Jesus não só participa das oficinas, como também dos bailes organizados pelo Gira Vida no salão da Igreja uma vez por me, onde se esbalda de tanto dançar. Segundo ele o pessoal do grupo tem uma convivência muito boa mesmo fora das oficinas. Nos momentos livres eles pegam uma lista enorme onde tem os telefones de todos do grupo e combinam de fazer algum passeio ou apenas gastam o verbo, colocando a conversa em dia. Em suas palavras “Trabalhar não dá mesmo, então vou ficar em casa vendo televisão?”.

Seu Jesus não vê muitos programas na TV. Ele gosta de ver o quadro de dança no Faustão e às vezes vê filmes na sessão da tarde. Para se informar, ele assiste o Jornal Nacional e de vez em quando compra jornal nas bancas. Ele diz que depois que começou a participar das atividades em grupo tomou gosto pela leitura e escrita, frequentemente ele até faz alguns versos. Seu Jesus prefere ler revistas a livros e sempre quando encontra alguma frase que considera boa, importante anota e passa para frente. Ele diz que adora a folhinha do Sagrado Coração de Jesus e a revista Metrópole, a qual vêm com o Correio Popular aos domingos. Ele conta que já deu várias revistas para as pessoas, pois quando esta lendo sobre um assunto importante, lembra de um amigo e vê que a matéria serve para ele.

Seu gênero predileto de filmes é ação. Antes ele costumava ir muito ao cinema e ver fitas de vídeo, porém hoje prefere gastar o tempo aproveitando ao máximo todas as atividades de que participa. Aliás, Seu Jesus faz questão de afirmar que é muito mais feliz agora, com tudo o que faz, do que já foi em sua vida inteira. E é sobre como sua vida melhorou após a convivência com os grupos da Vila Castelo Branco que ele conta na entrevista a seguir.

As atividades têm ajudado bastante o senhor depois da cirurgia?

Seu Jesus:
Ah, ajudou demais. Minha esposa que fala “como você mudou!”. Acho que eu mudei pra melhor né. Eu não sabia que a melhor coisa que existe é a gente fazer as coisas sempre em grupos. Porque você faz amizades, você conhece pessoas, cada dia que passa você tá conhecendo mais pessoas. Além disso, é bom participar porquê a gente ganha noção das coisas. Antigamente eu tinha até vergonha de falar em público. Agora é diferente. Na PUC, por exemplo, quando eu quero contar uma historia o professor de Engenharia pede para eu ir na frente falar pra turma de alunos, daí eu começo a falar. Quanto mais gente tiver, melhor. Falar e é bom demais.


De onde surgiu essa desenvoltura?

SJ: Isso partiu de eu participar de atividades em grupo. Porque a gente começa a pegar amizades, e quanto mais amizades, melhor pra mim. É aquele leque que vai aumentando cada vez mais. Aonde eu vou eu conheço pessoas. É bom demais. Eu sempre encontro pessoas que me conhecem, às vezes eu nem lembro da pessoa(Risos)!Engrandece a gente isso!
Eu gosto de contar histórias onde vou e passar muita mensagem, lição de vida, exemplos, sabe. Então as pessoas pedem pra eu falar. Quando eu estou quieto no lugar as pessoas perguntam o que esta acontecendo comigo! Pronto, aí já me dá corda!

O Senhor chegou a voltar à sua cidade? Não sente falta dos velhos tempos?

SJ:
Não. Nunca tive vontade. A gente relembra aquele tempo e tal. Mas eu acho que agora eu estou sendo mais feliz e me divertindo muito mais do que quando era mais novo, eu me sinto assim. Antes era só trabalhar e mais nada. Agora não, nós temos passeios, a gente vai pra outros lugares com os grupos. Já fomos pra Holambra com o Progen e com o grupo da Praça dos Trabalhadores também, com três ônibus! É bastante gente, daí é bom que a gente sempre tá se cruzando com o pessoal das oficinas, que é tudo da região. Com a turma da ginástica nós também já fomos. Em plena segunda feira a gente foi fazer um piquenique na Lagoa do Taquaral uma vez. Até brincamos de gangorra lá. Viramos menino de novo, é bom demais!


Confira trechos da entrevista abaixo



domingo, 13 de dezembro de 2009

Flag Football começa a virar febre em São Paulo

Por Romeu Caldeira

Equipe do Indaiatuba Destruction Flames

Os esportes norte-americanos sempre tiveram influência no cenário esportivo mundial. No Brasil, não é diferente. Dentre estes esportes destaca-se o futebol americano, que ganha cada vez mais novos adeptos no país do futebol da bola redonda. Só no estado de São Paulo estima-se que haja cerca de 4.000 praticantes, sendo 2.500 somente na capital. Porém sua prática ainda não possui um incentivo expressivo, basicamente pelo fato do esporte exigir equipamentos de proteção que possuem um alto custo, tornando a pratica do esporte para a maioria, inviável.

Nos EUA, este fato, mesmo em menor escala, também se tornou um problema para os adeptos do esporte, foi pensando nisso que foi criado o Flag Football (futebol de bandeira), que se caracteriza pelo não uso de equipamentos de proteção e por não exigir contato físico, evitando lesões.

Time comemora ponto
Nessa modalidade, em vez dos empurrões e trombadas que são freqüentes no futebol americano para parar o progresso dos atacantes, os jogadores de defesa puxam uma espécie de bandeira que fica presa no calção dos jogadores, para assim interromper a jogada. Assim, os praticantes não necessitam usar equipamentos de proteção, o que torna sua prática mais barata do que o futebol americano convencional.
A prática do Flag Football vem tendo um constante crescimento no país, principalmente no estado de São Paulo, onde já existe uma liga (LPFA), que organiza anualmente um campeonato com 20 times, divididos em duas conferências (Conferência Paulista e Conferência Estadual) com 10 times cada.


Jogador parte para a corrida

O esporte ainda é amador no Brasil, e é mais visto como um hobby por seus praticantes. Em Indaiatuba recentemente foi criado um time de Flag Football formado por um grupo de amigos que conversavam pela internet. Hoje, o time denominado Indaiatuba Destruction Flames possui um grupo com 38 jogadores e tem o objetivo de entrar para o campeonato estadual, como relata o jogador e co-fundador do time Felipe Von Zuben, “o time é recém formado, não temos nem um ano ainda, mas temos grandes ambições, como entrar para a liga”. Perguntado sobre o porquê de ter a idéia de formar um time de Flag Football, Felipe não exitou, “tenho enorme paixão pelo futebol americano, sempre tive vontade de praticar, mas não há apoio ao esporte aqui. Então pensei... se não existe um time, porque eu mesmo não crio um com meus amigos?”.

O crescimento do esporte no estado de São Paulo chamou a atenção de clubes de futebol da capital paulista como, Corinthians, Palmeiras e Portuguesa, que possuem seus representantes na LigaFlag e disponibilizam locais para treinamento e uniformes, assim como a marca do time.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Com livros, fonoaudióloga ajuda deficientes na inclusão à sociedade.

Por Márcio de Campos

Há muitas razões para se dizer que a natureza é sábia. Uma delas, e talvez a principal, é a diversidade de formas de vida que encontramos no mundo. Assim como as várias espécies de flores ou de animais é possível observar características tão diferentes também nos seres humanos. Os traços étnicos ou biológicos identificam visualmente o quanto cada pessoa é única e especial. Por isso, é muito natural conviver com pessoas diferentes - incluindo aquelas que possuem algum tipo de deficiência.

Para ajudar na vivência dessas pessoas, Cláudia Cotes que é formada em Letras e Fonoaudiologia pela PUC de Campinas, escreveu dez livros com o objetivo da inclusão da pessoa com deficiência. Seu primeiro livro infantil foi escrito em 1996, em 2004 ela lançou um CD com livros em Braille e com Libras. “Desse produto saiu um projeto de ação social, depois uma ONG chamada A Vez da Voz e eu nunca mais parei”, afirma Cláudia que criou o primeiro telejornal inclusivo da Internet e da TV brasileira. “Faço isso para provar ao Brasil que todos somos capazes de transmitir informação com qualidade, mas que acima de tudo, somos seres humanos”.

Cláudia Cotes é a idealizadora da ONG A Vez da Voz



Ao entrar no universo das pessoas cegas, surdas, com AIDS, com câncer ela percebeu que estas pessoas não existiam no mundo da literatura. Foi aí que ela resolveu escrever com leveza e ludicidade e entrar em temas que mexem com o preconceito humano.

Com texto e ilustrações poéticas, seus livros têm como objetivo sensibilizar as crianças sobre as diferenças visando à educação inclusiva. “Ao derrubar as barreiras imaginárias que construímos sobre o tema, isso nos faz perceber que o mundo pode ser muito mais humano se reconhecermos que há gente que brinca, vê, escuta e anda “diferente”. Surdos, cegos, deficientes físicos ou não, todos somos “especiais”, diz a professora e fonoaudióloga.

Livro escrito em homenagem à paciente do instituto Boldrini



Em Campinas, o Centro Cultural Louis Braille, que é uma organização não governamental, tem a missão de favorecer a inclusão social e o exercício da cidadania das pessoas com deficiência visual. O objetivo desse trabalho é prestar serviço nas áreas educacionais, habilitação - reabilitação e inserção no mercado de trabalho. O Centro conta com uma equipe interdisciplinar constituída por diversos profissionais como: pedagogos, assistentes sociais, psicólogos, terapeutas ocupacionais, técnicos em orientação e mobilidade, professor de educação física, e ainda com um corpo de voluntários que exercem atividades técnicas e de apoio para assim atender pessoas com cegueira e baixa visão, com idade a partir de 12 anos, hoje o CCLBC atende atualmente um grupo de 120 alunos.

Centro Louis Braille atende pessoas com deficiência visual desde 1969


Desde 2005, CCLBC em parceria com o Ministério da Cultura no Programa Cultura Viva, tem um projeto voltado para a difusão e o acesso da sétima arte entre deficientes visuais. O projeto que leva cinema, filosofia e inclusão digital é a primeira experiência brasileira diretamente ligada a um programa de governo.

O projeto tem o nome de Ponto de Cultura Cinema em Palavras e é realizado todas as terças – feiras, das 13h30 às 16h. “A platéia é composta por pessoas que não enxergam, os filmes são dublados e narrados em detalhes para os ouvintes e ainda assim, costumamos a descrever os cenários, as expressões dos atores, tudo enquanto o filme roda”, explicou a coordenadora do projeto Bell Machado.

Embora dedicados a pessoas que não enxergam, os filmes estão abertos a todos aqueles que desejarem compartilhar esta experiência com os alunos do Ponto de Cultura.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Segregação Galáctica?!


por Bruno Corrêa


Imagem divulgação do filme "Distrito 9"


Distrito 9 é um filme de ficção, com direito a alienigenas e armas super-potentes, mas, se você pensa que por estes fatores o filme é mais uma super-produção hollywoodiana, você está enganado. Trata-se de um filme original, uma ficção em formato de documentário, que trás consigo críticas sociais com relação à segregação dos menos afortunados, e também a retratação do ser humano conforme sua avidez pelo lucro a todo custo.

O cenário do filme é a Africa do Sul, onde vinte e oito anos atrás do tempo do filme, uma nave espacial chega à Terra e mantêm-se flutuando sobre a cidade de Joanesburgo. Enquanto os humanos esperavam uma guerra ou avanços tecnológicos, eles encontram uma horda de seres, que no filme são retratados como semelhantes a camarões, em condições deploráveis.


"Camarões" revirando lixão no Distrito 9


De inicio, as nações do globo fornecem alimentos e ajuda a tais seres interplanetários, porém, com o passar do tempo, eles são deixados de lado, restringidos a permanecer no local estipulado pelos humanos em condições precarias e sem direito a retornarem à sua nave, submetendo-os a buscas de coisas úteis nos lixões e a uma gangue contrabandista que enxerga neles um meio de arrecadação de lucro em troca de ração de gato, a qual parece ter um efeito viciante nos "camarões". Não obstante, a organização internacional responsáveis por eles, a MNU, procura de toda forma uma maneira de conseguir utilizar as armas alienígenas, as quais necessitam de reconhecimento do DNA extra-terrestre pra que funcionem, tornando todas as investidas da organização infrutíferas.

Porém, no desenrolar da trama acontece um imprevisto, o personagem principal e agente da MNU, Wikus van der Merwe (Sharlto Copley), contrai um vírus alienígena enquanto comanda uma operação de despejo e realocação dos aliens, passando assim a transmutar-se em um deles e se tornar caçado por sua propria organização para estudos de fins bélicos.

Wikus van der Merwe (Sharlto Copley) sendo contingido por agentes de MNU



Pois bem, como citado no início, trata-se de um filme de crítica social. A escolha do cenário não é desproposital, algo bastante presente no filme são os cartazes denotando a proibição da estadia dos alienígenas em diversos locais, o que nos remete ao regime do Apartheid, ocorrido no mesmo local tempos atrás, quando o mesmo acontecia com relação aos negros. A crítica não se restringe a apenas isso como também a diversos outros fatos históricos, por exemplo quanto à realocação destes seres, as quais podem nos lembrar a expulsão e realocação das pessoas da antiga Iuguslávia, ou ainda à transição territorial dos judeus poloneses para os guetos na 2a Guerra Mundial.

Outra crítica encontrada no filme, é quanto a falta de preocupação dos governos com relação aos menos afortunados. Percebe-se isso quando os extra-terrestres são tratados de maneira violenta pelos agentes da MNU, algo que ocorre diariamente em favelas brasileiras, por exemplo, entre policiais e moradores, e quando são demonstradas as condições precárias em que tais sujeitos são obrigados a viver, algo também muito visível em nosso país com a população de classe baixa, basta assistir ao documetário "Ilha das Flores" para compreender.



"camarão" observando soldados da MNU através da janela de um camburão


O filme ainda vai além, e critica o modo "capitalista selvagem" do ser humano moderno, o qual, frio e calculista, tenta de qualquer maneira a obtenção de lucro monetário sem levar em conta a moralidade dos meios necessários para atingir o seu objetivo, como vemos no filme a forma de tratamento da MNU com relação ao personagem principal quando este está em fase de transmutação genética. Vale lembrar que ele não é apenas um agente desta mesma organização como também é genro do encarregado pelo comando desta. Outro exemplo são as transições injustas de dinheiro e tecnologia por ração de gato, que podemos caracterizar da mesma maneira se associarmos tal ação com o tráfico de drogas.

Pode-se dizer que o filme é um pseudo-documentário, que trás consigo diversas críticas à sociedade contemporânea. Para quem gosta de uma boa crítica, este filme é altamente recomendado.


Assista o trailer do filme "Distrito 9" - http://www.youtube.com/watch?v=lw4z6LLgcU0

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

2012- O Fim do Mundo



Poster do Filme 2012 na versão brasileira - o Cristo Redentor sendo destruido pela natureza


Por Caio Falcão


“2012”, o filme mais esperado e anunciado de 2009 chega as telonas prometendo muito e decepcionando, mais um blockbuster para encalhar nas prateleiras das lojas.O erro se deve a um filme sem roteiro, com uma história fraca e cheia de clichês, alem do patriotismo americano e o amor revigorado entre famílias destruídas, o que destrói a temática sobre qual o filme foi construído ,que tinha tudo para transformá-lo em um grande sucesso dos cinemas.
O filme baseasse no apocalipse previsto pela civilização Maia, que ocorreria em 21 de Dezembro de 2012, causado por um raro Fenômeno cósmico, o alinhamento dos planetas e do Sol que ocasionaria a inversão dos pólos da Terra desencadeando uma série de efeitos climáticos e catastróficos em nosso planeta. (teorias sobre 2012)


O filme começa em 2008, com uma descoberta feita por pesquisadores de um superaquecimento no centro da Terra, o que leva o presidente dos Estados Unidos a convocar uma reunião com os principais governantes do mundo para tomar as devidas providencias. Quatro anos mais tarde a história se divide em duas, uma se passa com os governantes e suas preocupações e outra com uma família de classe média estadunidense.
O separado pai de família Jackson Curtis (John Cusack) vê sua vida tomar um rumo diferente do esperado,vê seus casal de filhos criados pela ex-mulher Kate Curtis (Amanda Peet) e pelo seu atual marido, Gordon Silberman (Thomas McCarthy). Curtis é escritor e dirige uma limusine para um poderoso magnata russo, e não enxerga perspectivas de mudança de vida. Um dia ao buscar seus filhos para passar um final de semana juntos, o escritor começa a perceber que há algo errado com o mundo.

John Cusack faz o papel de Jackson Curtis, um pai que tenta salvar sua familia da destruição a todo custo


Simultaneamente a história do escritor, um cientista chamado Adrian Helmsley (Chiwetel Ejiofor) e seu amigo Carl Anheuser (Oliver Platt) tentam alertar o governo estadunidense sobre o perigo iminente do fim do mundo. Com poucas perspectivas de salvar a população, o presidente dos Estados Unidos, novamente reunido com os principais lideres mundiais, decide botar em pratica o seu plano para salvar algumas pessoas no mundo.


primeira cena de destruição do filme, Curtis e sua familia tentam escapar da destruição de Los Angeles

A partir desse momento começa a destruição mundial, um ponto positivo para os efeitos visuais, cenas que tiram o fôlego de quem assiste tudo na telona. Curtis pega os filhos, a ex-mulher e o marido dela e começa a fugir da destruição. Cenas de destruição do mundo inteiro são mostradas, como o Rio de Janeiro, Vaticano, Paris, etc. Porém o foco principal é o Estados Unidos. Depois de escapar da cidade de Los Angeles, a família Curtis corre para a área de vulcões em atividade, procurando um radialista maluco que teria feito mapas que mostravam onde estariam os veículos de salvação da espécie humana. A corrida contra a destruição recomeça, e a família decide ir até Las Vegas onde poderá tomar um avião que os leve diretamente a China, de onde os barcos equipados para a sobrevivência da humanidade irão sair.Ao chegar no aeroporto, parcialmente destruído, Curtis encontra o seu chefe, o magnata russo, que comprou passagens para embarcar no superbarco, e o ajuda a pilotar um grande avião para a China. O avião não agüenta a viagem e cai em um local totalmente congelado,onde membros do governo chinês estão vasculhando a área afim de encontrar pessoas que tivessem o tal ticket para embarcar no veiculo de salvação. O magnata russo engana a todos e deixa a família de Curtis e sua namorada para morrer no deserto gelado.

O orçamento de 2012 foi de US$ 260 milhões. O filme brigará pelo oscar de efeitos visuais, mas não passa nem perto das premiações de roteiro e atores.


Curtis e sua família é claro conseguem chegar de maneira inexplicável (são resgatados por chineses que tentariam entrar clandestinamente no navio) no local onde os navios estão, e conseguem entrar clandestinamente no veiculo. Porém, ao entrar no navio, os clandestinos travam a porta que selaria o interior do navio e o protegeria. A partir daí a inundação do mundo começa e a corrida para tentar fechar a porta também. No final, após arriscar sua vida, Curtis consegue salvar o navio, porém não consegue salvar o marido de sua ex, que morreu na tentativa de salvar a todos.A nova perspectiva de vida começa então para os tripulantes do navio, que se dirigem a África, área que não foi afetada pelo apocalipse.





Curtis corre para escapar de um vulcão em erupção. Faz inveja a qualquer 007

O filme é marcado por um roteiro sem pé nem cabeça, que se perde em explicações e apresenta falha na tentativa de explicação de fatos. Os clichês vêem aos montes e fazem quem assiste perguntar “eu já não vi isso em algum outro lugar em outro filme?”, como por exemplo, o descaso do filho mais velho com o pai, o arrependimento no final do filme, a reconquista da família destruída ( marido e ex-mulher acabam juntos, pra variar), a capacidade do protagonista de escapar das situações mais criticas, o patriotismo exacerbado dos norte-americanos e a perspectiva de que saberemos que no final tudo acabara bem para o protagonista do filme.

"2012" apela para efeitos visuais para segurar a trama.
Outro ponto a se destacar é que o protagonista, Jackson Curtis (John Cusack), não faz feio se o compararmos a Jack Bauer de 24 horas ou a John McClane de Duro de Matar heróis de seriados e filmes de ação norte-americanos, o pai de família dirige carros em alta velocidade, dirige aviões, escapa de vulcões em erupção, enchentes, terremotos e outras catástrofes feias apresentadas na telona.O filme, que deveria ter um contexto mais filosófico e discutir as previsões feitas pelos Maias, traz uma história maluca de uma família que supera todas as dificuldades e acaba junto no final, em meio ao caos mundial. Não é de se estranhar que o diretor Roland Emmerich,( O Dia Depois de Amanhã -2004 e Indepedence Day-1996) tenha baseado nas suas obras antigas para a realização desse novo blockbuster, e que esteja enterrando literalmente a sua perspectiva de fazer novos filmes bons.
Assista o trailer do filme 2012 - http://www.youtube.com/watch?v=l5eyug663sk

Cultura em roda

Por Mariana Bottan

Para quem vê de longe e desconhece, é nítido o estranhamento desconfiado. Um grupo bastante variado de pessoas, ao redor de uma mandala ao centro, dança e canta unido pelas mãos e pelos passos seqüenciados de uma coreografia. Um momento de reflexão, ao mesmo tempo íntima e coletiva, precede o movimento alegre e cooperativo da dança em roda.
É assim, repleto de simbologias, que se dão os encontros das Danças Circulares Sagradas, tipo de prática, trazida da Europa ao Brasil na década de 90, que alia o desenvolvimento do bem-estar físico e espiritual ao resgate cultural das tradições de diversos povos ao redor do mundo. Em Campinas, o grupo de Danças Circulares (que é aberto ao público) se encontra semanalmente no ponto de Cultura do Sinpro (Sindicato dos professores de Campinas e região) e todo último domingo do mês no Parque Ecológico do município.
De acordo com Mairany Gabriel, especialista em arte-terapia e coordenadora do grupo, a proposta das simples coreografias das Danças Circulares é, por meio do trabalho com a simbologia e com a percepção que cada integrante da roda assume diante dela, despertar valores comunitários sob a forma de conhecimento das diferentes tradições culturais. “É com essa coreografia repleta de símbolos, que vão desde o conceito original de dança em roda às letras das músicas conectadas aos passos, que se busca despertar nas pessoas que praticam a percepção de construção coletiva e de desenvolvimento da espiritualidade”, explica a professora do grupo.

A simbologia do movimento também relacionada aos ciclos da natureza e à percepção do sagrado antropológico (ou seja, aquele que é fruto da percepção espiritual do indivíduo e, portanto, diferente do sagrado teológico de uma religião) é, sobretudo, o que diferencia as Danças Circulares Sagradas das danças de roda tipicamente folclóricas. “Muitas vezes, a palavra sagrado acaba por relacionar, erroneamente, o objetivo da dança à prática de uma religião específica, conta Mairany. Segundo ela, essa idéia comum é um dos motivos que dificulta atribuir às Danças Circulares Sagradas o status de prática cultural. “No Brasil, o que é entendido como cultura popular costuma remeter-se ao folclore e ao “oba-oba” puro e simples. Por essa razão, é muito difícil conseguir o reconhecimento de manifestação cultural uma dança que traz atrelada a concepção de sagrado”, ressalta Mairany.



Mesmo sendo uma prática cultural pouco conhecida (ou reconhecida), no final de 2008 o projeto “Danças Circulares – Um Resgate Cultural” de Mairany Gabriel recebeu o prêmio ‘Interações Estéticas: Residências Artísticas em Pontos de Cultura’ da Fundação Nacional de Artes (Funarte). Para Mairany, ao participar das danças de diferentes etnias, pode-se conhecer e reviver o sentimento do povo ao qual pertencem. “É uma forma de afirmar a identidade de um povo, de difundir sua cultura de forma pacífica e solidária”, explica.
Mais que um resgate cultural ou forma de expressão corporal, para Carlos Perches, professor e participante de grupos de Danças Circulares há mais de dez anos, a prática possibilita uma convivência saudável com todos os tipos de pessoas. “A roda é um espaço democrático, onde, apesar de participar gente de todas as idades, raças e gênero, todos são iguais. Além disso, representa a possibilidade de fazer novas amizades, reencontrar pessoas e de sair da loucura e correria do mundo pragmático do trabalho”, relata Perches. E completa: “é a possibilidade de retorno ao simples e de busca por um sentido àquilo que se faz na vida”.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Pesquisa mostra aumento de empregos em 2010

Por Caio Falcão

Uma pesquisa realizada pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) revela que o índice de empregos no Brasil em 2010 tende a aumentar. Seguindo o fluxo de informações, o CEA (Centro de Economia e Administração) fez uma pesquisa relacionada a cidade de Campinas, onde constatou tamb ém que os empregos irão aumentar nos próximos anos, porém o salário do trabalhador esta cada vez menor.
Segundo a economista Eliane Rosandiski, professora da PUC Campinas, o crescimento da taxa de empregos se deve basicamente a queda brusca ocorrida no ano passado, com o inicio da crise financeira “Um cenário otimista vem aparecendo e os empresários voltaram a produzir e contratar”.

A professora acredita que a economia do país só vai melhorar se as empresas obtiverem um apoio financeiro, que devem acontecer com a retomada da linha de produção pós-crise. “O importante é que as taxas de investimento produtivo retornem. Antes da crise várias empresas estavam fazendo planos de expansão da planta produtiva. Agora é fundamental que depois de (re)asseguradas as condições de consumo os projetos de novos investimentos se concretizem para que possamos, de fato, adentrar um circulo virtuoso de crescimento”.

A região de Campinas é conhecida como um pólo industrial, onde a diversidade produtiva é boa. Eliana acredita que por causa das indústrias, as atividades comerciais e de serviços tendem a crescer. “A região de Campinas passou bem pela crise mundial justamente por ser uma região rica, a demanda produzida aqui fez os efeitos da crise diminuírem”, ressalta.

Porém, nem tudo é só otimismo. Como a própria pesquisa mostra, o salário do trabalhador que ingressa o mercado de trabalho hoje em dia tende a ser menor do que era há alguns anos atrás. Eliane acredita que este foi o ponto negativo do ajuste de custos ocorridos durante a crise. “Diante de um cenário de incertezas, vantagens de custos, foram buscadas via rotatividade para rebaixamento dos custos salários”, diz e completa que “a esperança é que cessada essa fase a própria recuperação econômica ocorra em meio à revalorização do salário. Normalmente em momentos de crise, busca-se proteger o emprego, só na recuperação os salários podem ser valorizados.”

terça-feira, 24 de novembro de 2009

A polêmica do portal

por Nádia Macedo
Foram utilizados 760 mil reais para trazer à realidade o portal da cidade de Americana, deste montante 71% foi investimento do governo federal. Depois de pronto, o portal tem trazido descontentamento diante dos munícipes. Para quem não o conhece, imagine então duas estátuas nuas e obesas, cada uma de lado da avenida Antonio Pinto Duarte, segurando um arco sobre esta via.
O portal era para ser de boas vindas, o orgulho da cidade. No entanto, os moradores de Americana estão contrariados, o que deveria ser um cartão postal da cidade, virou motivo de vergonha. Para os conservadores a obra é um atentado ao pudor, e para os outros é apenas muito feio.


Divulgação



O americanense e estudante de direito Renan Faria expressa rapidamente o que sente em relação ao portal: “Essa entrada é horrível.” Já para comerciante Maurício Fernandes o dinheiro foi mal investido. “A cidade precisa de investimento em vários outros setores, como saúde e educação. Gastou muito dinheiro pra obter uma obra que causa revolta entre os moradores.”
A ideia do artista era retratar a seguinte situação: as duas figuras do monumento representam a força do imigrante, já o arco que seguram faz alusão a um pedaço de tecido, pois a cidade de Americana é um pólo têxtil.
O portal da Princesa Tecelã é um dos últimos atos da antiga administração de Americana e, agora, a nova administração esta em dúvida sobre o que fazer com o portal considerado constrangedor por muitos moradores.
Os americanenses que não foram ouvidos antes da construção, agora podem dar a opinião sobre o assunto por meio da enquête que está na internet realizada pelo conselho de cultura da cidade. Para a diretora da Secretaria de Cultura e Turismo de Americana, Maria Amera Moscon a enquete é a melhor saída. “O portal causa um certo desconforto e, para resolver a situação de uma forma mais definitiva, o conselho de cultura fez uma proposta de buscar a vontade popular”. A diretora revela, ainda, o próprio incomodo em relação ao portal. “Como cidadã eu falo que me incomoda termos como representação os gordinhos na entrada”.

Divulgação

Apesar de parecer fácil acabar com a obra, o presidente da OAB de Americana, Guilherme Martins Maluf, revela as dificuldades. “O principal é analisar o dinheiro público que,já foi gasto dinheiro. Agora é conviver com a obra e investir em outros setores.”

Conheça a enquete realizada pelo Conselho de Cultura através do site:

http://www.concult.org.br

domingo, 22 de novembro de 2009

I wanna rock ! Pela primeira vez no Brasil, Twisted Sister faz show caloroso na noite de SP

Por Thomaz Marostegan


Uma pequena fila, com cerca de 300 pessoas, se forma em frente à casa de espetáculos Via Funchal, Vila Olímpia, São Paulo. Está uma noite quente na cidade, em torno dos 26°C e, tem tudo para ser mais ainda mais quente. Ás 20h 20 os portões são abertos e a massa, agora composta por um número bem acima das 300 pessoas, começa a entrar o local. O ambiente está escuro, apenas com uma meia fase de luz.




No palco, uma bateria à frente de outra denuncia que haverá uma banda de abertura. A temperatura permanece agradável, clássicos do rock and roll são executados nos PA´s (caixas de som principais ) agradando e distraindo a platéia que aguarda ansiosa a banda que, em mais de 25 anos de carreira, nunca pisou na América do Sul. São 21h e todas as luzes se apagam, uma expectativa é criada, mas ainda é muito cedo para atração principal. Uma voz feminina é ouvida e uma moça simpática ocupa o palco, iluminada com um único flash, para anunciar uma promoção. Tudo escuro, novamente. Voltam os clássicos e, após mais duas músicas, a mesma mulher entra, novamente uma luz é acessa, e ela anuncia: “Agora, com vocês, a maior banda de heavy metal do mundo!”. Muitas pessoas estão inquietas e pensam em qual banda ela estaria falando. Passam-se alguns segundos. As luzes se apagam e ela termina sua frase: “...com vocês Massacration”. É aí que o público presente entende a piada. Trata-se de uma banda-paródia do programa humorístico Hermes e Renato da MTV.




Os integrantes usam vestimentas, trejeitos e clichês do chamado rock farofa (referente à extravagância das atitudes e roupas dos roqueiros da década de 80). As letras são paródias de músicas nem tão populares entre os roqueiros, mas que contém piadas envolvendo cotidiano e sexo e, na maioria das vezes, cantadas em um inglês enrolation. A parte instrumental é perfeita e até surpreendente. Quem está presente fica impressionado. Com força e energia, a banda cativa até mesmo os mais incrédulos. Músicas como Metal is the Law, Metal Massacre Atac e, principalmente, Metal Bucetation (cantada em uníssono pelos presentes) agitam e aquecem a platéia para o prato principal da noite: o grupo norte americano Twisted Sister.



São 21h 30. As luzes se acendem e o palco começa a ser preparado. Volta a meia fase de luz e os clássicos voltam aos alto falantes. Tudo volta a ser como antes da banda de abertura. Bom, quase tudo. Nesse momento a casa está quase lotada, todos os degraus preenchidos, a temperatura já não é tão refrescante, parece que o forno está ligado. O tempo passa e nada. O relógio bate 22 horas e nada. A simpática moça volta e distribui brindes e faz o anúncio de que a banda entrará em cinco minutos. A platéia fica em polvorosa. Mais clássicos voltam aos falantes, até que, de repente, a música cessa e começam a ser anunciadas as normas de segurança da casa de shows. Os PA´s começam a executar It´s a long way to the top, clássico do AC/DC no volume máximo e já é possível ter uma idéia do que acontecerá no próximo dia 27 no Morumbi, quando a banda ocupará o palco.

Confira no video a Introdução e o sucesso The Kids are back




Neste momento, tudo escuro e a cortina aberta. Desse modo, é possível ver o momento em que o baterista A.J.Pero se posiciona em seu kit. O palco continua apagado e a música de inspiração termina. Começam os acordes de What You Don’t Know, música de abertura de todos os shows desde 1984. O vocalista Dee Snider, com uma voz estridente, anuncia “pela primeira vez no Brasil: Twisted Sister. O público vai ao delírio, o palco pisca em flashes e é possível ver Dee Snider maquiado como nos anos 80, com as roupas e tudo mais. Seus companheiros de banda estão discretos em relação ao que eram nos anos 80 e apenas usam as roupas e os instrumentos daquela magnífica época. A primeira música nem chegou à metade e o público já está ganho.




Com a simpatia e os clássicos despejados pela banda foi difícil ficar parado. O calor que já assolava a todos se intensificou, chegando ao palco: a todo momento o vocalista ia se refrescar atrás dos amplificadores. Depois de cantar algumas músicas, o vocalista travestido se separa de sua fantasia, usando uma versão mais apropriada para o clima. Eis que chega o ponto alto do show: o mega hit da banda We´re not gonna take it, um espetáculo à parte, com uma execução perfeita por parte da banda, um som ainda mais perfeito. A atuação da platéia? Faltam adjetivos descrever o que aconteceu neste momento. Até mesmo o guitarrista e fundador do Twisted Sister, Jay Jay French reconheceu e jurou por Deus que havia sido a maior manifestação ao vivo da música em 25 anos de carreira. Ao final da música, os membros da banda se reuniram na frente do palco para agradecer e conversar com os fãs para, em seguida, munido de uma câmera portátil, o outro guitarrista Eddie Ojeda se preparar para o que viria a seguir. O vocalista anuncia que a introdução será tocada novamente para ficar registrado e foi o que aconteceu: como uma única voz, vocalista e platéia, para cantar. Um som que há muito tempo o Via Funchal não ouvia.





Ao falar em Twisted Sister é possível pensar em tudo. Com a platéia afinada e com a letra das músicas na ponta da língua, a banda começou a tocar a introdução da música The Price, uma balada com ‘ar’ romântico e o vocalista se atrasa (de modo proposital) e perde a entrada da canção. O público não se faz de rogado e inicia os vocais no momento exato, acompanhados por um sorridente vocalista que vê sua canção sendo cantada perfeitamente. Mais um show do público inspirado. Na seqüência, a banda ataca de Burning in Hell, muito propicia para o calor que fazia naquele momento. Logo em seguida mais um mega clássico, I Wanna Rock, que recebe uma versão um pouco diferente. Nela se destaca o baixista Mark Mendoza que parece duelar com seu baixo durante as canções e faz a base do refrão. A galera se empolga ainda mais. O show já está chegando a sua parte final, e a banda se despede para voltar para o bis em poucos minutos.

The Price





Na volta toca Come Out and Play, sucesso dos anos 80. Para fechar, os integrantes se apresentam ao público, agradece a recepção e se despede novamente, dessa vez parece ser definitivo. A platéia não pára de cantar e sente que está faltando uma música em especial que eles não seriam loucos o bastante para deixar de fora do Set List, trata-se de S.M.F. (Sick Mother Fuckers), uma homenagem aos fiéis fãs da banda. Agora é mesmo o fim do espetáculo.




A única vaia da noite ficou por conta de um fã argentino que jogou uma bandeira de seu país no palco e o vocalista exibiu para o público presente: tome vaia. Na seqüência, Snider mostrou outra bandeira, desta vez do Corinthians, uma divisão entre vaias e aplausos, mais aplausos, com certeza para ouvidos de um corintiano.





Durante toda a noite, diante da empolgação dos fãs apaixonados, a banda se desculpou por não ter vindo antes ao país e prometeu voltar em breve. Apenas com uma ressalva: no inverno! Como diz uma das músicas do Twisted Sister, you can´t stop rock and roll. O público, que presenciou um espetáculo inesquecível, que o diga.



Técnica de ginástica chinesa ajuda na recuperação de idosos

Por Thomaz Marostegan


Faltam cinco minutos para as 7 horas. As primeiras alunas já começam a chegar à Praça Celi Campelo, no coração do Taquaral. A pequena roda formada pelas três colegas logo começa a aumentar. Senhoras com cabelos brancos que lembram algodão, ao longe, a passos lentos chegam à roda. Todas usam uma camiseta branca – o uniforme – com o conhecido símbolo chinês Ying-Yang, que significa equilíbrio. O som da conversa torna-se cada vez mais forte. Ouvem-se risadas aqui e ali. Uma troca de receita de um bolo de milho. E uma discussão, encerrando as conversas paralelas, sobre como será a confraternização da festa de Natal. A praça já está lotada. São mais de 60 ‘garotas’. Uma filha traz a mãe à aula.






Este é o cenário das aulas de Lian Gong, realizadas todas as terças e quintas-ferias, das 7h30 às 8h30. As aulas são uma iniciativa da agente de saúde Elizabeth Aoki, que trabalha no Centro de Saúde Taquaral, algumas ruas abaixo de onde se realizam as aulas. As garotas, animadas e dispostas, em sua maioria tem mais de 65 anos e eram freqüentadoras ativas do Centro de Saúde em que Elizabeth trabalha. As reclamações de dores nas articulações, nas costas, nas pernas começaram a preocupar a agente. “Estávamos com uma demanda reprimida de reumatologia e ortopedia”, relata. “Os idosos chegavam todos os dias reclamando das dores, mas também, de depressão. Reclamavam muito da solidão, da falta de sentido da vida”, lembra.










Nesse foi momento que a Secretaria Municipal de Saúde começou a oferecer a capacitação em Lian Gong, ginástica terapêutica chinesa, que visa o alongamento profundo e a saúde física e interpessoal do praticante. A técnica previne e trata as dores no corpo, como nas articulações e musculares. Elizabeth viu a oportunidade de melhorar a situação dos pacientes sem atendimento com a aplicação das aulas e preceitos chineses. Foi assim que começaram as aulas no Taquaral.
O início, há sete anos, contava com apenas cinco alunas. O número começou a aumentar quando as aulas saíram do Centro de Saúde do Taquaral e foram para a praça. Hoje, o total chega a quase 80 alunos que se espalham por toda a extensão da área. A professora chega pontualmente às 7h30, também a pé, como a maioria das alunas. Agora há dois homens na presença das jovens senhoras. Elizabeth é beijada por grande parte das alunas, mas ela não se estende nos cumprimentos. Liga seu rádio portátil.




Uma música apenas instrumental e bem suave se propaga. O som dos passarinhos em volta completam o cenário e a aula começa. As alunas e alunos já dominam os movimentos passados por Elizabeth, de costas para o grupo. Ela começa com alguns comandos, por exemplo, “felicidade, paz. Veja a luz do sol banhando seu corpo e vamos abraçar a nós mesmos e agradecer a oportunidade de aprender. Vamos respirando”. Em seguida avisa: “vamos rodar a cintura com as mãos nos rins” e “vamos orar por nós mesmos, sorria para você mesmo, massageie o peito”.
A aula segue, durante uma hora, com as alunas seguindo fielmente a professora em todos os movimentos, até nos mais complicados que exigem equilíbrio. Ninguém deixa de fazer nenhum dos propostos. O sol já está mais forte e o trânsito na pequena rua do Taquaral começa a ficar mais intenso. Elizabeth prepara o encerramento. Novamente pequenos grupos se formam, combinam encontros. Elvira Fernandes, de 84 anos, e Iraci Brilhante, de 79 anos, pegam seus carrinhos de feira estacionados na praça e avisam as colegas que vão fazer compras. “Nós não nos conhecíamos, mesmo morando tão perto”, revela dona Elvira. “Todas as terças vamos juntas ao mercado e ajudamos uma a outra com as compras”, completa dona Iraci.






Elizabeth explica que além dos benefícios para a saúde das praticantes, a sociabilidade é importante para o sucesso da ginástica. “Elas fizeram amizade, não se trancam em casa, combinam chás da tarde, saem juntas. Isso é uma vitória”, comemora. Dona Olívia Piva, de 67 anos, viúva, relata a mudança que as aulas provocaram na sua vida. “Antes eu ficava muito em casa e as dores apareciam em toda parte. Hoje, faço o exercício, que alem de me deixar mais disposta, com menos dores, me traz felicidade de participar com tantas outras pessoas de um momento como esse. Olha que dia maravilhoso para estar numa praça, ao ar livre”, frisa. Depois dos exercícios, todos se espalham pela praça e retomam o caminho por onde vieram, com a mesma disposição de antes. Despedem-se com um “até a próxima aula”.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Academias ao ar livre: nova opção de lazer em Indaiatuba

Bruno Corrêa

A iniciativa para a criação das academias ao ar livre de Indaiatuba surgiu do prefeito Reinaldo Nogueira, visando oferecer mais uma opção de lazer e melhorias da saúde e circulação principalmente para as pessoas de terceira idade.

Por meio da Secretaria de Obras e Vias Publicas, o projeto teve início no dia 27 de setembro, sendo o primeiro ponto das academias localizado no Parque Ecológico, no cruzamento das avenidas Engenheiro Fábio Roberto Barnabé e Ário Barnabé. São seis pontos de academias concluídos este ano, e já existem planejamentos para futuras construções, como é previsto para o Parque Residencial Indaiá, o qual seria o sexto ponto a ser concluído este ano, não fosse a indicação do vereador Osmar Ferreira Bastos para que o sexto ponto localiza-se no Parque da Liberdade, assim, o Parque Indaiá está configurado como o primeiro local de academia a ser construído em 2010. O projeto inicil, ou seja, as seis academias, está orçado em aproximadamente R$ 70 mil.
Cada academia conta com nove tipos de aparelhos de ginástica, os quais são providos de tratamento especial de pintura para que não haja desgaste devido a condições naturais como chuva e exposição ao sol. No local há uma placa informativa sobre os aparelhos.


placa informativa ante-treino


Placa informativa sobre os aparelhos




Os equipamentos são os seguintes:


Simulador de caminhada, para aumentar a mobilidade dos membros inferiores e desenvolver a coordenação motora


Multi-exercitador, para fortalecer, alongar e aumentar a flexibilidade dos membros inferiores e superiores


Pressão de pernas, para fortalecer a musculatura das coxas e quadris



Remada sentada, para fortalecer a musculatura das costas e ombros


Esqui, para aumentar a flexibilidade dos membros inferiores, membros superiores e quadris e melhorar a função cardiorespiratória


Surf, paramelhorar a flexibilidade e agilidade dos membros inferiores, quadris e região lombar


Simulador de cavalgada, fortalecer membro inferiore e membros superiores e aumentar a capacidade cardiorespiratória


Rotação dupla diagonal, para aumentar mobilidade das articulações de ombros e cotovelos


Rotação vertical, para fortalecer os membros superiores e melhorar a flexibilidade das articulações dos ombros


O aposentado José da Fonseca Antonello, 67, comenta ter melhoradi física e psicológicamente agora que frequenta uma academia ao ar livre "A gente fica com mais disposição, se sente mais leve, se distrai dos problemas", diz. A academia, avalia, "é boa para a saúde e para o bolso também, ainda mais para quem não tem condições de frequentar uma academia paga".


O secretário de Urbanismo e do Meio Ambiente, Nilson Alcides Gaspar, diz que existe a previsão para a construção de mais 20 academias para o ano de 2010. "Isso se não instalarmos mais porque o projeto foi muito bem recebido pela população e as academias estão sempre cheias", relata.

As seis academias previstas no projeto inicial já estão em funcionamento e podem ser utilizadas a qualquer horário. Elas se situam no Parque Ecológico, no cruzamento das avenidas Engenheiro Fábio Roberto Barnabé e Ário Barnabé; no Parque Ecológico, nas proximidades da Concha Acústica; na Praça Três Marias; no bairro Cidade Nova 2, na avenida Conceição; na Praça do Guri, no Jardim Morada do Sol; no Parque Ecológico, nas proximidades da Raia de Remo, de frente ao Jardim Monte Verde; e no Parque da Liberdade.

Produção de vídeo inclusivo traz expectativa de interação nas salas de aula


Por Mariana Bottan


Como mostrar o som àqueles que vivem no universo do silêncio? Foi em busca desta resposta que a jornalista Julyana Troya, em parceria com a ONG Vez da Voz de Campinas, trabalhou para desenvolver um vídeo pedagógico destinado à educação inclusiva de crianças com deficiência auditiva. O objetivo do projeto, pioneiro no Brasil, é o de servir como instrumento de interação entre crianças com e sem deficiência auditiva para ser utilizado por professores de educação especial nas salas de aula.
“O som do silêncio” por ser de caráter experimental ainda não foi disponibilizado para os alunos. Uma equipe de pedagogia especial da Unicamp verifica o conteúdo pedagógico a fim de mensurar as respostas a esse tipo de vídeo. Julyana Troya, responsável pelo roteiro do vídeo, lembra que não existe nenhum material pedagógico nos moldes como o vídeo foi produzido, especializado para a comunidade surda. “Desenvolvemos um formato específico em que o intérprete de libras está em primeiro plano e é intercalado com ilustrações que compõem a narrativa. Nós tivemos que aprender com os próprios erros porque não havia nenhum modelo que pudesse ser seguido”, explica.
A principal dificuldade na criação deste trabalho foi desenvolver um formato especial adequado às crianças surdas e que pudesse, ao mesmo tempo, ser compreendido por crianças sem deficiência auditiva. “O objetivo principal era fazer um vídeo efetivamente inclusivo, que gerasse interação”, relata a jornalista. A solução adotada foi disponibilizar no menu do DVD uma opção com áudio e legenda e outra com intérprete de Libras..

Educação Especial no Brasil

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que 1,5% da população brasileira (2,25 milhões) com deficiência auditiva. De acordo com o estudo da Secretaria de Educação Especial, em 2007 o Brasil atendia a cerca de 700 mil pessoas com surdez nos diversos níveis e modalidades de ensino, distribuídas entre escolas especiais para surdos, escolas de ensino regular e ONG's.
De acordo com Marina Almeida, psicóloga que atua como consultora em Educação Inclusiva há 23 anos, a falta de materiais para alunos com necessidades educacionais especiais não é o único problema. “A principal questão é técnica, ou seja, é o educador que não sabe identificar as necessidades de aprendizado individuais e de cada grupo específico de deficiência. O professor tem que saber como adaptar a forma de ensino à maneira que cada um constrói o conhecimento”, explica Marina Almeida.
Marina Almeida fundou em 2006 o Instituto Inclusão Brasil e aponta o preconceito como o principal entrave para uma política educacional efetivamente inclusiva. “As pessoas têm que começar a mudar o modo de olhar o outro”, frisa. Em sua opinião, é necessário que o educador aprenda com o aluno inserido em seu mundo “e não encará-lo como uma tábula rasa”. Para ela, nas salas de aula devem haver uma relação de mão-dupla entre professor e aluno. “Temos que romper com certos estigmas e saber reconhecer a competência de cada um e não o déficit”, finaliza Marina.

Os templos mudaram

Se antes eram templos da arte, hoje os cinemas deram lugar ao consumismo e a templos de oração

por Nádia Macedo

Depois de 26 anos, a última sala de cinema no centro de Campinas que resistia as modernidades e a possibilidade de ser instalada em um shopping, se uniu aos antigos prédios cinematográficos e fechou as portas. A seção que encerrou a programação do Cine Paradiso foi realizada no dia 29 de outubro. Os idealizadores deste cinema alternativo, Hélcio Enriques e Laércio Júnior, decidiram fechar as portas por uma série de razões, entre elas a degradação da área central, que levou a falta de público e consequentemente o desastre financeiro para se manter um cinema aberto.“Eu encaro o fim do Paradiso como o fim de uma era e não o fim de tudo. Continuamos a buscar incentivos.”, alerta.
Os cinemas antigos, assim como o Cine Paradiso, foram perdendo público, investimentos e espaço. A causa disto, segundo o historiador da Secretaria de Cultura de Campinas, Orestes Augusto Toledo, é a procura pelo lucro, o que acabou por transformar o ambiente cinematográfico em um ramo de negócio.
Foto MIS Campinas
Fotografia histórica do Antigo Cine Voga
Os cinemas, decorrente da procura exacerbada pelo lucro, se deslocaram para os shoppings e passaram a dar lugar às igrejas evangélicas e lojas de grande. Como é o caso do Cine Voga, o cinema campineiro que antes se localizava no cruzamento da Avenida Anchieta com a Rua General Osório e que hoje abriga a “Igreja Mundial do Poder de Deus”. Ao entrar na igreja é possível perceber que, além do prédio, os assentos deste cinema também foram preservados. Assim como o Cine Voga, o prédio do antigo Cine Carlos Gomes, localizado na Rua Campos Salles, também hoje é ocupado por outra igreja evangélica, a Igreja Universal do Reino de Deus.
Para Toledo, nos dias de hoje a maioria dos cinemas se localiza em um ambiente mercadológico. “Os shoppings são os templos do consumismo, e é neste ambiente que os cinemas estão inseridos”, conta Orestes.

Nádia Macedo

O prédio do antigo Cine Voga dá lugar hoje a uma igreja evangélica


Segundo o historiado e amante do ambiente cinematográfico, o shopping favorece a veiculação de filmes que têm características mercadológicas. No entanto, ele ressalta que existem produções de qualidade, mesmo sendo minoria diante de grande parte que ele considera ‘lixo hollywoodiano’. Toledo revela, ainda, que a indústria e a arte são ambiguidades que envolvem a produção dos filmes cinematográficos. “A força ava­ssaladora da mercadoria e do lucro coloca, muitas vezes, em cheque os princípios do cinema enquanto arte. Mas seria incoerente afirmar que a ‘arte pela arte’ é totalmente viável financeiramente”. Para ele, o maior problema destes cinemas que se localizam no shopping é que o filme acaba sendo visto como mais um produto, um acessório a mais neste ‘templo do consumo’. “Como as classes populares não têm condições para tamanho consumismo, são inevitavelmente excluídas dessa realidade”, avalia.
De acordo com o historiador, a pirataria é uma consequência dessa exclusão e representa uma alternativa para acesso das classes com menor poder aquisitivo à produção cultural cinematográfica. “Os camelódromos não são piratas, piratas são as indústrias que criaram uma propriedade privada, privando as pessoas de um bem cultural”.
Apesar dos cinemas estarem inseridos em um mundo capitalista existem, ainda, aqueles que resistem a essa dominância mercantil. São os chamados cinemas alternativos, onde são exibidos filmes de maior profundidade artística. Em Campinas, esse tipo de filme pode ser encontrado nas sessões do MIS (Museu de Imagem e Som). “Neste cinema de resistência é possível assistir aos filmes que não chegam às telas em razão da censura do mercado”, explica Orestes Toledo.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Novos escritores sentem dificuldades em publicar o primeiro livro


Por Carolina Marialva

Com o sucesso de best-sellers, principalmente os de ficção, como Crepúsculo e O Código Da Vinci, que levam seus autores ao reconhecimento e popularidade, e, em alguns casos à se tornarem milionários – como JK Rowling, a criadora de Harry Potter - muitos aspirantes a escritores ficam maravilhados diante destas possibilidades e se inspiram a escrever e a lançar seu primeiro livro. Porém, quem vai com muito entusiasmo pode se desiludir na hora de encontrar uma editora para publicar.

O produtor cultural e escritor novato Felipe Tazzo passou pelo sufoco de ver seu primeiro título nas livrarias. “Quando moleque eu tinha ilusões de que fosse contratado por uma editora e eles lidariam com a burocracia, as vendas. Eu ficaria rico como o Paulo Coelho e seria assediado na rua pelas fãs”, conta. Porém, quando enviou os primeiros manuscritos Tazzo sentiu-se frustrado com as respostas, e com a falta delas também. Cansado de esperar, ele decidiu inscrever o projeto de seu livro no Fundo de Investimentos Culturais de Campinas e conseguiu a verba para publicar sua primeira obra O Livro das Coisas que acontecem por aí.

Felipe Tazzo se prepara para lançar o segundo livro

A exemplo de Tazzo, os escritores não precisam ficar anos esperando a resposta de uma editora, há outros meios para se publicar um livro. Existem dois tipos de editoras, as comerciais, como são chamadas as grandes, mais conhecidas, como a Companhia das Letras, a Papirus, a Rocco etc. E a edição do autor, o qual depois de terminar sua obra paga para a produção sair no mercado. Este é um processo rápido e fácil, mas que exige um investimento por parte do próprio autor que varia de acordo com o projeto gráfico. Este tipo de editora segue um cronograma mais flexível, de acordo com as necessidades do autor, diferentemente das editoras comerciais, que possuem um planejamento próprio e segue um cronograma para a escolha das obras que serão publicadas.

O primeiro livro de Tazzo


Segundo a jornalista Cyntia Belgini, que está há oito anos trabalhando no mercado editorial, publicar um livro é um processo demorado que envolve uma série de etapas. O primeiro passo, aponta, é pensar na linha editorial da editora, se combina com a linha editorial do livro a ser publicado. “Se eu tenho um livro sobre educação, eu tenho que mandar para uma editora que publique livros de educação. Não adianta eu ter um livro voltado para o mercado educacional e mandar pra quem publica romance”, avisa ao salienta que esta é a primeira etapa para a exclusão por parte da editora.

A jornalista Cyntia Belgini está há 8 anos no mercado editorial


Aceito pela editora, o livro é avaliado por um conselho editorial. Os critérios envolvem o sumário, os organizadores, se há unidade editorial. Depois, o material passa por um parecerista, alguém especializado na área e que vai dizer se o livro merece ser publicado. Se passar por estas etapas, aí sim a obra pode ser aceita pela editora e assim entra em um cronograma de produção, que envolve revisão e diagramação. Depois vem a fase do projeto gráfico, a confecção da capa, do design do livro e, por fim, a assessoria de comunicação, ou o marketing, para fazer a divulgação e preparar o lançamento antes de ir para as livrarias.

Na avaliação de Cyntia, há “muita recusa por parte das editoras” e muitos escritores se sentem mal ao receber a mensagem de que sua obra não foi aceita. Como aconteceu com o escritor José Oliveira, até conseguir lançar o livro O Réu dos Sonhos. “Uma editora recusou o livro depois de 21 dias alegando que não se enquadrava na linha editorial deles. Mas não leram o original. Sei disso porque coloquei um pingo de cola a cada 10 páginas no rodapé, e eles estavam intactos. Se tivessem lido, haveria o rompimento da cola. Me senti muito mal em saber que essas pessoas brincam com os sonhos de outras,”lamenta.


José Oliveira mostra orgulhoso seu livro publicado depois de muito sufoco


É raro um livro ser escolhido na primeira vez que o autor o envia, pois além do custo, há o risco do livro não dar certo no mercado. Se houver um feedback negativo, dificilmente o autor da obra terá um novo livro publicado. Deste modo, ultimamente, as grandes editoras preferem traduzir obras estrangeiras que já possuem algum sucesso, a investir em uma nova produção nacional.
De acordo com o dono de uma filial da FTD, Rivail Alves, as editoras trabalham com uma programação pré-estabelecida em torno de dois a quatro anos que envolvem temas, faixa etária, literatura infanto e ou juvenil, adulta. “Os originais que chegam para análise devem estar dentro desta programação, senão serão recusados”, alega.


Por isso cada vez mais os aspirantes a escritores tem procurado investir dinheiro do próprio bolso com a edição do autor. “Meu primeiro livro publicado foi em parceria com a editora. Eu banquei 1/3 do valor”, revela Nelson Magrini, que hoje possui três livros publicados, todos de ficção, Anjo a Face do mal, Os guardiões do tempo e Relâmpagos de sangue, além de ter participação em uma coletânea de contos, Amor vampiro. Ele conta que enviou seu primeiro livro para várias editoras e todas recusaram. “Uma minoria mandava um e-mail padrão com a recusa, algumas outras por carta; a maioria simplesmente não falava nada”, lembra.


Mesmo com as recusas, Magrini não desistiu. “Eu estava muito ‘pé no chão’ e sabia que era muito difícil emplacar um livro no Brasil”, fala. Ele descobriu a editora Novo Século por meio do livro de André Vianco, Os Sete, que fazia sucesso. Assim, ficou amigo do escritor e decidiu que queria publicar naquela editora, por ser a única a dar chance para um autor nacional. Porém, como a Novo Século também é prestadora de serviços, cobrou para publicar.



Nelson Magrini em noite de autógrafos


Esta opção, de bancar a obra, está cada vez mais comum devido às dificuldades de se publicar em uma editora de grande porte. Neste caso, além dos custos, o próprio autor tem que comercializar seu livro, divulgá-lo e oferecer para as livrarias..O processo é facilitado com a internet, como afirma Cyntia. “Tem várias formas hoje twitter, orkut, blogs, google books. Estas ferramentas possibilitam que você divulgue trechos, resumos e faça uma publicidade gratuita,”diz. Apesar do trabalho, a edição do autor tem a vantagem de poder gerar um retorno financeiro de todo o investimento e ainda os direitos autorais ficam exclusivamente com ele. “Se você manda para uma editora que paga a sua produção, geralmente, 90% do direito autoral fica com o editor, o autor fica apenas com 10% de cada livro vendido,” esclarece Cyntia.

Oliveira: um sonho em papel

Segundo a jornalista, vender livro no país nunca foi fácil e hoje em dia tem sido uma “guerra” entre as editoras, que estão cada vez mais contendo gastos. “A gente tem um numero baixo de leitores e o preço do livro é caro. Então tudo isso faz com que o mercado não seja muito promissor para o autor”, completa. Mas ela aconselha os novos escritores a não desistir e sim a ter paciência e a pesquisar as editoras para enviar seu trabalho e até mesmo a investir na edição do autor.



Magrini e fã no lançamento de seu último livro, Os Guardiões do tempo

Apesar das dificuldades aqueles que se arriscaram e persistiram hoje não se arrependem. “Nunca pensei em desistir”, comenta Nelson Magrini “Eu mal acabei de escrever meu primeiro livro e enviar o original, comecei a escrever o segundo”. José Oliveira tem a mesma opinião: “Nesse meio, tudo é demorado, estou ciente de que é difícil entrar e muito mais difícil se manter, mas desistir, jamais”, pondera. Para ele, a maior satisfação de um escritor é ver seu livro nas prateleiras, concorrer a prêmios, ser convidado para noites de autógrafos, dar entrevista e ser reconhecido pelos fãs. “Ser escritor era um grande sonho, me manter nessa jornada é o grande desafio. E o que mais me motiva hoje é receber e-mail de leitores sobre meu trabalho”, conclui.

Ouça a entrevista completa com Cyntia Belgini