Meio ambiente é o foco do blog produzido por alunos do 6º período de Jornalismo da PUC-Campinas, resultado da disciplina Jornalismo On Line.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Perfil- Jesus Afonso transborda força de vontade e animação na 3ª idade

por Carolina Marialva

Agenda lotada, atividades de manhã até a tarde, curso aos sábados e no final de semana uma reunião de amigos ou um baile para relaxar. Esta rotina aparenta pertencer a algum jovem na flor da idade, que quer fazer tudo e não para um minuto!Porém, ela descreve o dia a dia de Jesus Afonso, um senhor de 64 anos. Apesar da idade Jesus é um exemplo de vitalidade, determinação e de que terceira idade e aposentadoria não é sinônimo de ficar descansando ou fazendo tricô em casa.

Muito animado, Seu Jesus, como é conhecido é um participante assíduo das atividades de terceira idade e oficinas oferecidas em um bairro ao lado de onde mora, a Vila Castelo Branco, que apesar de se localizar na periferia da cidade de Campinas tem uma boa infra estrutura contando com quatro escolas, Igreja, uma casa de cultura e uma ONG (O PROGEN- Projeto Gente Nova) que recebe jovens, adultos e idosos e oferece atividades educativas e prazerosas aos freqüentadores. No entanto, Seu Jesus não fica restrito às atividades de seu bairro, tanto que faz um curso de engenharia oferecido por um professor da Puc-Campinas e seua alunos.

Seu Jesus e a parceira de dança no Baile da Igreja


Nascido em Promissão, uma cidade a Noroeste de São Paulo, passou a infância em um sítio em Tupã, também no Estado, com seus pais e mais cinco irmãos, dos quais era o mais velho. Estudou apenas até o terceiro ano primário, como era chamado o 4º ano na época e diz que tudo o que sabe, aprendeu depois. Por volta dos 18 anos a família mudou para Campinas. Morou em vários bairros, como Jardim Eurélia e Interlagos, antes de se mudar em 1977 para o Nóbrega, onde vive até hoje.

Na época de infância, no sítio, como os pais não podiam comprar brinquedos, o próprio Jesus os fazia, utilizando madeira. Até que quando ele tinha 13 anos o pai de Jesus viu que o filho tinha jeito para mexer com madeira, e colocou o menino em uma marcenaria para aprender a profissão. O dono da marcenaria a princípio não iria pagar Jesus, e o pai disse que não haveria problema já que era apenas um aprendizado. Ao fim do primeiro mês ele avisou o menino que iria até sua casa falar com seu pai. Jesus ficou com medo, achando que o chefe iria reclamar de alguma coisa que ele tinha feito de errado, porém o patrão foi trazer o pagamento do garoto. O pai se surpreendeu, pois o marceneiro disse que não iria pagar nada, mas ele fez questão, alegando que o menino merecia.

No início, Jesus apenas varria a marcenaria e arrumava as madeiras, mas depois de apenas três meses, começou a montar móveis e não parou mais. Até 1990 trabalhou em marcenarias, mas depois preferiu trabalhar como autônomo, por conta, fazendo móveis sob encomenda em sua própria casa. No entanto Jesus foi obrigado a parar de trabalhar devido uma operação que fez em 2005. A cirurgia o proibiu de fazer força e carregar peso, por isso há 4 anos, desde quando forçado a abandonar a profissão que exerceu a vida inteira, não faz mais móveis.

Entretanto Jesus não reclama. No primeiro ano depois da operação, ele chegou a ponto de ficar louco, pois não agüentava ter de ficar em casa vendo televisão. Isso até descobrir as atividades de grupos. Ele começou a fazer Lian Gong (pronuncia-se Lian Kun), uma ginástica com movimentos marciais, no posto de saúde da Vila Castelo Branco, onde conheceu um enfermeiro que comentou que ele poderia participar do Gira Vida, uma atividade feita em roda em que os participantes contam histórias, piadas, fazem brincadeiras, exercícios para mente, dentre outras coisas. Foí a partir daí que o marceneiro conheceu e entrou no meio dos grupos da Vila, e fora dela.

Hoje ele tem a agenda lotada de atividades. Seu Jesus, como é conhecido, participa de grupos praticamente todos os dias da semana, ás vezes até há mais de uma atividade no mesmo horário, deixando ele na dúvida da qual participar. Além do Gira Vida, que acontece toda terça, Seu Jesus também faz ginástica no salão da Igreja de Guadalupe segunda e sexta. Quinta- feira ele faz aula de dança com um professor da Pontifícia Universidade Católica de Campinas na Igreja e aula de computação na Casa de Cultura Tainã. Lá, às sextas- feiras, ele participa do relaxamento e depois do Grupo Vocal, onde aprende música e seus grandes nomes. Sábado Seu Jesus faz um curso de Engenharia Civil na PUC com mais quatro companheiros da Vila Castelo Branco que pegam carona com ele para chegar até a universidade. Seu Jesus já participou de diversas outras oficinas ao longo destes 4 anos desde que parou de trabalhar, inclusive já fez um curso de culinária no Progen e gostou tanto que fez novamente. Agora, Seu Jesus ainda está dando uma de repórter do jornal Conexão Jovem, participando das oficinas de jornalismo toda quarta no Progen.

Mesmo com a correria Seu Jesus tem tempo para a esposa, Maria Antônia, com quem é casado há 25 anos. Eles moram nos fundos de uma casa em cuja frente vive uma irmã e um irmão de Seu Jesus, ambos solteiros. As outras duas irmãs são casadas e moram em Hortolândia. Seu Jesus não têm filhos, pois, de acordo com ele, casou tarde, com 39 anos, e sua esposa ficou com medo de dar a luz, mas ele não vê isso como um problema.

Muito ocupado, Seu Jesus não só participa das oficinas, como também dos bailes organizados pelo Gira Vida no salão da Igreja uma vez por me, onde se esbalda de tanto dançar. Segundo ele o pessoal do grupo tem uma convivência muito boa mesmo fora das oficinas. Nos momentos livres eles pegam uma lista enorme onde tem os telefones de todos do grupo e combinam de fazer algum passeio ou apenas gastam o verbo, colocando a conversa em dia. Em suas palavras “Trabalhar não dá mesmo, então vou ficar em casa vendo televisão?”.

Seu Jesus não vê muitos programas na TV. Ele gosta de ver o quadro de dança no Faustão e às vezes vê filmes na sessão da tarde. Para se informar, ele assiste o Jornal Nacional e de vez em quando compra jornal nas bancas. Ele diz que depois que começou a participar das atividades em grupo tomou gosto pela leitura e escrita, frequentemente ele até faz alguns versos. Seu Jesus prefere ler revistas a livros e sempre quando encontra alguma frase que considera boa, importante anota e passa para frente. Ele diz que adora a folhinha do Sagrado Coração de Jesus e a revista Metrópole, a qual vêm com o Correio Popular aos domingos. Ele conta que já deu várias revistas para as pessoas, pois quando esta lendo sobre um assunto importante, lembra de um amigo e vê que a matéria serve para ele.

Seu gênero predileto de filmes é ação. Antes ele costumava ir muito ao cinema e ver fitas de vídeo, porém hoje prefere gastar o tempo aproveitando ao máximo todas as atividades de que participa. Aliás, Seu Jesus faz questão de afirmar que é muito mais feliz agora, com tudo o que faz, do que já foi em sua vida inteira. E é sobre como sua vida melhorou após a convivência com os grupos da Vila Castelo Branco que ele conta na entrevista a seguir.

As atividades têm ajudado bastante o senhor depois da cirurgia?

Seu Jesus:
Ah, ajudou demais. Minha esposa que fala “como você mudou!”. Acho que eu mudei pra melhor né. Eu não sabia que a melhor coisa que existe é a gente fazer as coisas sempre em grupos. Porque você faz amizades, você conhece pessoas, cada dia que passa você tá conhecendo mais pessoas. Além disso, é bom participar porquê a gente ganha noção das coisas. Antigamente eu tinha até vergonha de falar em público. Agora é diferente. Na PUC, por exemplo, quando eu quero contar uma historia o professor de Engenharia pede para eu ir na frente falar pra turma de alunos, daí eu começo a falar. Quanto mais gente tiver, melhor. Falar e é bom demais.


De onde surgiu essa desenvoltura?

SJ: Isso partiu de eu participar de atividades em grupo. Porque a gente começa a pegar amizades, e quanto mais amizades, melhor pra mim. É aquele leque que vai aumentando cada vez mais. Aonde eu vou eu conheço pessoas. É bom demais. Eu sempre encontro pessoas que me conhecem, às vezes eu nem lembro da pessoa(Risos)!Engrandece a gente isso!
Eu gosto de contar histórias onde vou e passar muita mensagem, lição de vida, exemplos, sabe. Então as pessoas pedem pra eu falar. Quando eu estou quieto no lugar as pessoas perguntam o que esta acontecendo comigo! Pronto, aí já me dá corda!

O Senhor chegou a voltar à sua cidade? Não sente falta dos velhos tempos?

SJ:
Não. Nunca tive vontade. A gente relembra aquele tempo e tal. Mas eu acho que agora eu estou sendo mais feliz e me divertindo muito mais do que quando era mais novo, eu me sinto assim. Antes era só trabalhar e mais nada. Agora não, nós temos passeios, a gente vai pra outros lugares com os grupos. Já fomos pra Holambra com o Progen e com o grupo da Praça dos Trabalhadores também, com três ônibus! É bastante gente, daí é bom que a gente sempre tá se cruzando com o pessoal das oficinas, que é tudo da região. Com a turma da ginástica nós também já fomos. Em plena segunda feira a gente foi fazer um piquenique na Lagoa do Taquaral uma vez. Até brincamos de gangorra lá. Viramos menino de novo, é bom demais!


Confira trechos da entrevista abaixo



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