Meio ambiente é o foco do blog produzido por alunos do 6º período de Jornalismo da PUC-Campinas, resultado da disciplina Jornalismo On Line.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Cultura em roda

Por Mariana Bottan

Para quem vê de longe e desconhece, é nítido o estranhamento desconfiado. Um grupo bastante variado de pessoas, ao redor de uma mandala ao centro, dança e canta unido pelas mãos e pelos passos seqüenciados de uma coreografia. Um momento de reflexão, ao mesmo tempo íntima e coletiva, precede o movimento alegre e cooperativo da dança em roda.
É assim, repleto de simbologias, que se dão os encontros das Danças Circulares Sagradas, tipo de prática, trazida da Europa ao Brasil na década de 90, que alia o desenvolvimento do bem-estar físico e espiritual ao resgate cultural das tradições de diversos povos ao redor do mundo. Em Campinas, o grupo de Danças Circulares (que é aberto ao público) se encontra semanalmente no ponto de Cultura do Sinpro (Sindicato dos professores de Campinas e região) e todo último domingo do mês no Parque Ecológico do município.
De acordo com Mairany Gabriel, especialista em arte-terapia e coordenadora do grupo, a proposta das simples coreografias das Danças Circulares é, por meio do trabalho com a simbologia e com a percepção que cada integrante da roda assume diante dela, despertar valores comunitários sob a forma de conhecimento das diferentes tradições culturais. “É com essa coreografia repleta de símbolos, que vão desde o conceito original de dança em roda às letras das músicas conectadas aos passos, que se busca despertar nas pessoas que praticam a percepção de construção coletiva e de desenvolvimento da espiritualidade”, explica a professora do grupo.

A simbologia do movimento também relacionada aos ciclos da natureza e à percepção do sagrado antropológico (ou seja, aquele que é fruto da percepção espiritual do indivíduo e, portanto, diferente do sagrado teológico de uma religião) é, sobretudo, o que diferencia as Danças Circulares Sagradas das danças de roda tipicamente folclóricas. “Muitas vezes, a palavra sagrado acaba por relacionar, erroneamente, o objetivo da dança à prática de uma religião específica, conta Mairany. Segundo ela, essa idéia comum é um dos motivos que dificulta atribuir às Danças Circulares Sagradas o status de prática cultural. “No Brasil, o que é entendido como cultura popular costuma remeter-se ao folclore e ao “oba-oba” puro e simples. Por essa razão, é muito difícil conseguir o reconhecimento de manifestação cultural uma dança que traz atrelada a concepção de sagrado”, ressalta Mairany.



Mesmo sendo uma prática cultural pouco conhecida (ou reconhecida), no final de 2008 o projeto “Danças Circulares – Um Resgate Cultural” de Mairany Gabriel recebeu o prêmio ‘Interações Estéticas: Residências Artísticas em Pontos de Cultura’ da Fundação Nacional de Artes (Funarte). Para Mairany, ao participar das danças de diferentes etnias, pode-se conhecer e reviver o sentimento do povo ao qual pertencem. “É uma forma de afirmar a identidade de um povo, de difundir sua cultura de forma pacífica e solidária”, explica.
Mais que um resgate cultural ou forma de expressão corporal, para Carlos Perches, professor e participante de grupos de Danças Circulares há mais de dez anos, a prática possibilita uma convivência saudável com todos os tipos de pessoas. “A roda é um espaço democrático, onde, apesar de participar gente de todas as idades, raças e gênero, todos são iguais. Além disso, representa a possibilidade de fazer novas amizades, reencontrar pessoas e de sair da loucura e correria do mundo pragmático do trabalho”, relata Perches. E completa: “é a possibilidade de retorno ao simples e de busca por um sentido àquilo que se faz na vida”.

Um comentário:

Valdecy Alves disse...

Nos tempos atuais ao seguimos um blog ou sermos seguidos, formamos uma verdadeira teia, capaz de ter um alcance quantitativo e qualitativo para matérias formativas e informativas, que mídia alguma consegue ter. Já imaginou se os pré-socráticos e pós-socráticos tivessem tal meio divulgador na sua época? A história seria outra! POR ISSO PARABÉNS PELO BLOG.

Aproveito para CONVIDAR VOCÊ, seus seguidores e quem você segue, para lerem matéria sobre o espetáculo SAGRADO E PROFANO, que ocorrerá na cidade de Senador Pompeu, interior do Ceará, no pequeno Distrito de Engenheiro José Lopes. Experiência artística que mobiliza toda a população, que além de encenar a Paixão de Cristo ainda tem os caretas, que há cerca de 70 anos, saem pelas ruas. Experiência artística, social, política, folclórica, econômica..... que merece ser relatada, imitada e, sendo possível, vista e visitada ao vivo. Boa leitura em:

www.valdecyalves.blogspot.com